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Análise: Azuran Tales: Trials (Switch) põe à prova a paciência do jogador

Trazendo de volta os jogos de plataforma com dificuldade elevada, o game conta com elementos de aventura, exploração e uma boa história, mas peca nos detalhes.


Azuran Tales: Trials é um jogo de plataformas desafiador, que mistura aventura, fantasia e um sistema de habilidades bem próximo aos dos famosos RPGs. E não é só isso: por trás da jogabilidade simples, há uma história muito bem trabalhada. Adotando uma abordagem diferente de narrativa, parece que estamos em um romance medieval. Ou seja, está mais para páginas de um livro, que inclusive podem ser coletadas pelas fases, do que para um simples enredo de um jogo qualquer. Gostei de ler o folclore de Azuran e sobre como Magrath, o vilão, surgiu.

Você joga como Merius, um clérigo morto-vivo que recebeu a bênção (ou maldição, dependendo do seu ponto de vista) do Deus dos Mortos, Drukandra. Merius luta em vários níveis para restaurar o amuleto de Valur a mando de Drukandra. Só então ele pode voltar para sua família. Tocante, não?

Até que a morte nos pare

Os desafios que enfrentamos ao longo do jogo não são apenas criaturas malignas - que até têm um certo charme - mas também armadilhas em todos os cantos e labirintos. Algumas delas inclusive atrás de pilastras. Olha o nível da "trairagem".

Azuran Tales não é apenas um jogo de plataforma com progressão lateral, e como o título sugere, o termo "trials" realmente nos desafia. Com um cronômetro e contagem de mortes fixados em cada nível, o jogo nos propõe uma abordagem cautelosa no quesito progressão, a fim de evitar ao máximo danos fatais ao personagem.

Ainda que não haja limite de tempo ou de mortes, cada vez que nossa barra de vida chega a zero, o jogo levará metade de nossos objetos de valor. E acreditem, isso acontece bem mais do que desejamos. Há altares posicionados estrategicamente, permitindo que você armazene seus itens para recuperá-los caso venha a morrer. Aqui é possível também subir o nível do personagem.

Quanto à  jogabilidade principal, temos dois comandos básicos: rolar e atacar, simples assim. Existem também magias limitadas para usar, mas a nossa Convicção (substituindo a Mana para quem joga RPG) é drenada automaticamente após usarmos as habilidades e, ao longo do tempo, a uma velocidade tão rápida que assim que tivermos acumulado convicção suficiente, temos que usá-las. Rolar torna o personagem invencível pela sua duração, permitindo atravessarmos as armadilhas e esquivar dos ataques dos monstros.

O combate em si é simples, porém pobre. Quando você balança sua clava, se pressionar o botão de ataque muito rápido, o ataque será cancelado, resultando em muitos erros e, consequentemente, morte.Infelizmente, essa mecânica se torna repetitiva, pois é a única forma confiável de causar dano. Há pouca estratégia para vencer os inimigos, que são abordados mais ou menos da mesma maneira, ou seja, rolar para trás do monstro e atacar. Quando ele virar para você, basta rolar de novo e atacar.

 O diferencial são as armadilhas e quebra-cabeças, que visam encurralar o personagem em pequenos espaços durante o combate. Isso dificulta a rolagem atrás do inimigo para causar dano. Se não tomarmos cuidado, iremos evitar o ataque de um monstro mas caímos direto em uma armadilha. Demora um pouco até nos acostumarmos com essa situação, mas depois de umas 20 ou 30 mortes a gente pega o jeito.

Imersão

Os gráficos são razoáveis ​​quando o Nintendo Switch está encaixado no dock. Por conta do tamanho e da resolução das televisões, é possível ver os detalhes de cada fase e do personagem, embora os monstros e armadilhas nos deem pouco tempo para tal. Já no modo portátil, as imagens parecem bastante irregulares, o que dificulta nossa visão e reconhecimento do ambiente. Além disso, algumas fases possuem imagens em primeiro plano e que ocupam muito espaço em tela, prejudicando ainda mais a visualização do que está acontecendo. Isso não é um pré-requisito para se ter uma dificuldade avançada, e sim um erro no desenvolvimento. Os efeitos sonoros são magníficos e há uma trilha sonora que cria uma tensão no ar para acompanhar Merius enquanto ele enfrenta os perigos de cada labirinto.

O sistema de habilidades também é responsável por prender a atenção do jogador: cada habilidade pode ser utilizada após coletarmos os "Sigils", que são divididos em quatro categorias, cada uma com uma propriedade diferente e uma cor característica. Há também fragmentos desses Sigils e ao juntarmos dez deles, formamos um Sigil completo, podendo investir em uma das duas habilidades que cada cor possui. Ao atacarmos ganhamos convicção, permitindo a conjuração dos feitiços, que podem ser potencializados até 10 vezes.

Mesmo tendo esse sistema de magias, o jogo nos pune severamente a cada morte. Afinal, além do ouro perdido, todos os fragmentos acumulados também são perdidos. Sendo assim, são raras as vezes em que conseguimos juntar fragmentos suficientes para compor um Sigil completo e, assim, melhorar nossas habilidades.

Pecou nos detalhes

Levando em consideração a proposta do jogo em relação à sua programação, notei alguns probleminhas em Azuran Tales: Trials. Aquele que interfere mais e salta à vista é a capacidade de resposta da inteligência artificial do jogo. Na maioria esmagadora das vezes. os chefes ficavam presos em combinações de golpes que os tornavam praticamente invencíveis. Em vez de o jogo ser difícil porque você tinha que desenvolver novas estratégias e planos, temos que torcer para o jogo não "bugar" e eleger essa combinação durante a batalha. Uma coisa é o jogo ser difícil porque foi programado para tal, mas não é o caso. Questões como essa chegam a ser crueldade com os jogadores.

Também houve casos de armadilhas invisíveis - não escondidas, literalmente invisíveis - fazendo com que eu morresse aleatoriamente. Por diversas vezes caí no chão e morri sem saber o que tinha acontecido, além de atravessar certas paredes. Falhas e erros técnicos como esses não o fazem um jogo desafiador, e sim incompleto, até mal programado até certo ponto.


O que salva Azuran Tales: Trials é a forma como a história foi trabalhada e a progressão do jogador para com ela. O jogo e o gráfico estão longe de ser polidos, talvez pelo foco ser a história e não a jogabilidade. Ainda assim, gastar muito tempo em uma fase para poder concluí-la não é agradável. Sem contar as habilidades, que mesmo incrementando a aventura, são difíceis de usar, e quando temos a oportunidade, não somos recompensados à altura. Em vez disso, pude aprimorar minha paciência por ser persistente. Entretanto, toda paciência tem um limite e Azuran Tales: Trials chegou perto de me fazer perdê-la.

Prós

  • História envolvente e bem trabalhada;
  • Trilha sonora imersiva e característica da época;
  • Desafiador em alguns momentos.

Contras

  • Mecânica de combate pobre;
  • Falhas gráficas no modo portátil prejudicam a jogatina;
  • Bugs no jogo tornam chefes impossíveis de serem vencidos;
  • Sistema de habilidades não condiz com a proposta.
Azuran Tales: Trials - Switch/PC - Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Tiny Trinket Games

Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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