Jogamos

Análise: Arc of Alchemist (Switch): batalhas repetitivas em uma jornada pelo deserto

RPG de ação peca no combate, mas traz uma história instigante e algumas mecânicas que chamam a atenção.


Desenvolvido pela Compile Heart, Arc of Alchemist é um RPG de ação que se passa em um grande deserto. Apesar de já ter feito vários RPGs, a empresa não tem costume com obras voltadas à ação, sendo esta a primeira em que ela não contrata uma third-party como a Tamsoft para assumir a maior parte do desenvolvimento. Infelizmente, o jogo tem uma gameplay um tanto repetitiva e uma performance ruim no Switch, mas traz outros aspectos positivos à experiência.

Uma jornada pelo deserto


Depois de várias guerras, a humanidade causou tanta destruição que a vida na Terra se tornou insustentável. No entanto, uma lenda diz que há uma forma de salvar a todos: um Grande Poder que está escondido no Deserto da Gênese. Enviada para encontrá-lo, Quinn Bravesford lidera uma equipe de busca, mas internamente ela tem suas dúvidas sobre existir uma salvação de fato.

O jogo começa quando o grupo já está no deserto, enfrentando os autômatos que agem como guardas da área. Conforme exploram o local, os personagens logo vão descobrir mais sobre o passado, encontrar a ameaça de soldados de outra nação e ter a oportunidade de compreender os segredos lá escondidos.
 
Para os padrões do gênero, o jogo é curto (cerca de 12 horas é o suficiente para completar a jornada) e, por isso, a história é um tanto simples, mas o tom sério se mantém de forma consistente. Além disso, a história principal não tem nenhum momento forçado de desenvolvimento de personagens secundários, sendo os detalhes sobre os relacionamentos entre personagens e as suas backstories mostrados quando o jogador retorna à sua base. Cenas simples, mas eficientes em mostrar o peso que aquela jornada tem para todos, mantendo o foco central na protagonista.

De fato, é bastante interessante como essas cenas são simples e, ao contrário do usual da empresa, não forçam nenhum tipo de fanservice. Sinto que isso fez um bom favor para a sinergia entre a equipe, e me senti verdadeiramente interessado em ver como os personagens se conheceram e seus simples desejos para o futuro. A falta de fanservice não implicou de forma alguma em uma obra sem humor, tendo momentos engraçados que brincam com a personalidade de Quinn e seus aliados.

A trilha sonora também contribui bastante para os momentos mais sérios. Seja em seus momentos mais tristes ou para elevar a tensão dos conflitos, ela é sempre bem utilizada e efetiva em dar o tom adequado da cena.

Batalhas repetitivas no deserto


Infelizmente, em termos de gameplay, o jogo sofre com algumas questões. No deserto, o jogador conta com três personagens (de uma equipe que chega a 10 deles). Quinn pode usar qualquer arma, enquanto seus aliados só contam com um tipo cada. Apesar da maleabilidade de Quinn e da possibilidade de trocar entre personagens na base, uma falha grave do jogo é ser impossibilitado de fazer alterações no deserto. Quando toda a estratégia (escolha de personagem, equipe e arma) é feita antes de entrar na área, o jogador tende a ficar muito tempo com as mesmas habilidades.

Afinal, cada personagem conta com apenas três habilidades ativas: o ataque básico, que varia de acordo com a categoria (espadas, lanças, sinos) da arma; uma habilidade específica daquela arma (uma espada pode curar, enquanto outra tem ataques à distância); e um especial do personagem, cuja barra enche durante as batalhas. Por conta disso e da pouca variedade dos ataques dos inimigos, a tendência é que o jogador simplesmente aperte freneticamente o ataque básico, tornando o combate em algo muito repetitivo. Isso não significa que ele é fácil, mas há pouca margem estratégica para o jogador pensar em maneiras de enfrentar os inimigos de forma inteligente.

Claro, é possível usar a Lunagear, um item cujos poderes equivalentes a magia são desbloqueados ao longo do tempo com a obtenção de orbes no deserto. De fato, isso traz alguma variedade para o combate, e as combinações de magia em particular (como as estátuas de cura feitas com terra e água) podem ser bem úteis, mas existe um porém. Por ser usado também na resolução de puzzles variados nas áreas e ter um limite de usos, existe uma tendência do jogador a não gastá-lo para não ficar “preso”, impedido de avançar por ter consumido toda a energia da Lunagear.


A pior parte é que a versão de Switch do jogo também sofre com muitas quedas de framerate. Especialmente no modo portátil e quando há muitos inimigos próximos, tem momentos em que é possível assistir à execução de um combo vários segundos depois de ter apertado os botões. Já com ele no dock, esse problema é mais incomum.

Outro elemento importante da gameplay é a mecânica de construção de base. Ela é composta por várias instalações (prédios para treinamento, produção de armas e equipamentos, etc) e o jogador deve posicioná-las em um grid. Certos prédios possuem sinergia uns com os outros, fazendo com que colocá-los próximos aumente os seus ranks, melhorando os seus benefícios. No entanto, para poder obter essas instalações, o jogador precisará gastar dinheiro e itens que são obtidos ao derrotar os inimigos.

Esse investimento aumenta a utilidade da base, que possui uma série de funcionalidades. Nela, há uma loja que oferece vários itens, um menu de treinamento para aumentar a força dos personagens com dinheiro e materiais, um menu para definir a equipe que o jogador usará e a possibilidade de pagar a construção de acampamentos que permitem ao jogador curar no próprio deserto sem precisar voltar para a base.


De forma geral, Arc of Alchemist é um RPG de ação instigante. Infelizmente, seus vários pontos problemáticos no combate acabam enfraquecendo bastante a experiência e tornando-a muito aquém do que o título poderia ter sido, especialmente com os problemas de performance no Switch. Para quem não se importa com combates repetitivos, no entanto, ainda pode ser uma boa pedida.

Prós

  • História simples, mas séria e bem conduzida;
  • Trilha sonora que eleva os momentos mais dramáticos e de tensão;
  • A construção da base é uma mecânica divertida;
  • As combinações de Lunagear podem ser bem úteis.

Contras

  • Problemas de performance, especialmente ao jogar no modo portátil;
  • Impossibilidade de trocar entre armas/personagens durante a exploração;
  • Falta de variedade nos padrões de ataque dos inimigos;
  • Por design, o jogador é induzido a evitar o uso da Lunagear em combate.
Arc of Alchemist - Switch/PS4 - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google