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Análise: Super Destronaut: Land Wars (Switch) é uma regular reimaginação de clássicos dos arcades

Jogo transforma o gênero estilo Space Invaders em um first-person shooter, mas sofre com problemas de design e balanceamento.


Obscura, a série Super Destronaut tem lugar marcado na minha memória enquanto redator do Nintendo Blast. A terceira edição da franquia, Super Destronaut DX, foi um dos primeiros jogos que analisei para o site. Uma espécie de homenagem aos shooters como Space Invaders, o game cumpre sua proposta de ser um entretenimento rápido e divertido, como na época das máquinas de fliperama, mas sofre com algumas falhas de design em seus desafios e com possíveis glitches em seu ranking online.


Um ano e oito meses depois, o estúdio Petite Games reaparece com mais um título da série arcade, porém com uma proposta completamente diferente. Publicado pela Ratalaika Games, Super Destronaut: Land Wars literalmente muda a perspectiva dos jogos de tiro top-down. Desta vez, o game é em primeira pessoa, a navezinha dá lugar a armas e os aliens estão espalhados em um mapa em 3D. Essa alteração drástica de gênero traz uma certa sensação de novidade no início. Porém, após algumas horas com o jogo, é possível perceber que tais mudanças foram tanto para o bem quanto para o mal.

Vendo as coisas por outro ângulo

Não há muito segredo na estrutura de uma partida de Land Wars. O jogador deve explorar o mapa – gerado randomicamente em cada sessão de jogo – e atirar nos aliens enquanto desvia dos tiros inimigos. A gameplay remete a shooters clássicos como Doom, em que é necessário estar em constante movimento para sobreviver, já que a arena é aberta e não há muitos locais para se esconder.
Space Invaders em primeira pessoa.

No entanto, diferentemente de Doom, a essência aqui ainda é baseada nos arcades. A meta é alcançar grandes pontuações, derrotando aliens e resistindo o maior tempo possível. Para isso, não é preciso se preocupar com a munição, que é infinita, assim como nos jogos à la Space Invaders. Essa semelhança também está presente no comportamento dos adversários. Além de aparecer em levas, que ficam um período determinado na tela, cada inimigo possui movimentos diferentes, podendo pular no lugar, seguir o jogador ou se teletransportar pelo cenário.

Apesar de ser a primeira vez em que é utilizada a perspectiva first-person na franquia, a jogabilidade é boa. Os comandos de andar, pular e mirar são bastante responsivos, algo que é um avanço em relação a investidas anteriores do estúdio no gênero. Aliás, é possível alterar a sensibilidade da mira para aqueles que consideram a configuração padrão muito lenta. No entanto, faça isso antes de iniciar uma partida, pois não há opção de mudar durante o jogo, infelizmente.

Ouro de baixo quilate

Se por um lado há uma inspiração nos títulos do passado, por outro o game também possui mecânicas modernas. Porém, é na implementação dessas mecânicas que ele acaba se perdendo.

O principal diferencial é um sistema de compra de itens e power-ups durante as partidas. Cada alien explode em uma série de moedas ao ser derrotado. Quanto mais difícil for eliminá-lo, mais moedas caem na arena, além de mais pontos, que são adicionados ao placar. Ao coletá-las, o jogador pode trocá-las por novas armas e melhorias, como mais pontos de vida, disparos mais rápidos e mais dano infligido sobre os inimigos. Tudo isso pode ser feito instantaneamente por meio de um painel no mapa que, a princípio, pode ser um pouco complicado de usar.

Administrar a compra com os controles de mira enquanto tem-se que lidar com tiros alienígenas não é a coisa mais simples. Porém, quando entende-se que é possível primeiro destruir os adversários próximos e que os muito distantes não chegam perto a não ser que se aproxime deles, as compras ficam muito mais tranquilas.
Compre novas armas e power-ups na hora, durante a partida.

Entretanto, há um problema de balanceamento nesse sistema. É possível, em alguns minutos de jogo e sem muitas dificuldades, adquirir todos os power-ups e a arma mais potente do título: uma bazuca. A partir desse momento, o jogador torna-se excessivamente poderoso. A junção de três fatores faz isso acontecer: a bazuca derrota aliens com um tiro único e com sua explosão, os pontos de vida são recuperados a cada adversário morto e o número de inimigos aumenta a cada leva. Tudo isso provoca uma situação em que a quantidade de HP que se perde ao ser atingido é muito menor do que a quantidade que é recuperada ao detonar uma aglomeração colorida de extraterrestres. Assim, pode-se acumular pontos sem preocupação. Isso afeta diretamente um dos modos do jogo.

Arcade problemático

Assim como em seu antecessor, Land Wars possui um modo arcade com diferentes tipos de regras. Desta vez, há mais variedade: temos a disputa normal; a Hardcore, em que os inimigos têm mais vida e estão em maior quantidade; a Combo Breaker, na qual a partida continua enquanto o multiplicador de pontos não for zerado; a Maximum Strength, em que o jogador começa o game com uma bazuca; e a Snail, que faz o personagem se mover devagar e não conseguir pular.

O desbalanceamento que torna o protagonista muito forte, no entanto, faz com que essas regras não influenciem muito na gameplay. A tensão de enfrentar inimigos mais poderosos ou a preocupação em manter o combo ativo acabam sendo esmagadas pela facilidade de se derrotar os adversários. Além disso, ironicamente, o próprio game oferece uma opção em que a única arma é justamente a bazuca. Isso acaba fazendo com que todas as variações dentro do modo arcade tenham basicamente o mesmo tipo de experiência, tirando o modo Snail, já que a impossibilidade de pular torna desviar dos lasers um pouco mais complicado. No final, a sensação que fica é de tédio por repetição.
Bazuca destruindo absolutamente tudo.

Pode-se pensar, entretanto, que a graça do jogo é ver a pontuação subir cada vez mais e se comparar com outros usuários do mundo todo. Em ambas as situações, não é o que acontece. Primeiramente, não há leaderboards online, um retrocesso em relação a Super Destronaut DX, que tinha rankings pela internet, mesmo que não tão confiáveis assim. A falta de uma maneira de ver em que posição mundial está seu high score desestimula os mais entusiastas e acaba indo contra toda a cultura dos top scores dos fliperamas.

O título também não permite que se acumule muitos pontos devido a um erro que experimentei três vezes em situações similares. Após estourar o contador do game e conseguir mais de um bilhão de pontos, se a partida continuar normalmente, ela irá se encerrar inesperadamente por causa de um erro e voltar ao menu do Switch, fazendo com que se perca todo o avanço realizado.

Não sou nenhum programador, mas levanto duas hipóteses: ou o jogo não está programado para pontuações muito altas, ou ele tenta carregar tantos inimigos para a próxima leva que o hardware não aguenta. A quantidade de aliens e moedas no mapa após 30 minutos de jogo é bem grande e não há quedas significativas no frame rate. É possível que seja atingido um limite devido a uma falta de otimização do título.

O modo arcade também sofre com alguns problemas de design e de interface. Os principais acontecem com o multiplicador de pontos, que não é explicado em nenhum momento e não tem um feedback visual claro para o jogador entender como ele funciona, e com a mecânica Rampage, em que uma segunda arma é ativada para maiores danos, que também não é explicada com clareza. Sabe-se que ambos têm a ver com uma barra que enche a cada monstro derrotado e moeda coletada, mas que também se esvazia quando nada acontece. A barra cheia ativa o Rampage. Seria bom entender como cada ação a influencia para formular estratégias melhores.
Rampage ativa uma segunda arma. Mecânica poderia ser melhor explicada.

Há outros detalhes que deixam o jogo um pouco mais atravancado. Levas de inimigos e moedas que somem do nada – sem aviso prévio –, a falta de um contador de moedas na UI da partida – estando somente no painel de compra de itens – e a falta de um indicador que mostre a direção dos tiros que estão atingindo o personagem são alguns deles.

Desafio aceito

Um aspecto que apresenta uma melhora em relação ao jogo anterior, no entanto, é o modo de desafios. São 30 missões diferentes com metas como matar um certo número de alienígenas, comprar algum item no painel, coletar uma certa quantidade de moedas ou sobreviver a levas de adversários.

A principal crítica ao mesmo modo presente em Super Destronaut DX é que ele é muito dependente da sorte devido à natureza randômica da aparição dos inimigos. Cumprir alguns objetivos depende de se conseguir uma boa leva de aliens. Isso foi corrigido em Land Wars por meio do uso de rankings por tempo. Quanto mais rápido o desafio for concluído, melhor será o ranking, que varia entre bronze, prata e ouro. O fator sorte ainda está presente, mas ele não se torna mais tão decisivo para alcançar as metas. Uma leva ruim de inimigos pode levar a um ranking de bronze, por exemplo, e não mais impede que se prossiga.
Durante os desafios, o objetivo final aparece sempre na tela.

Aqueles que gostam de completar games 100% terão bons momentos ao conseguir o ouro em todos os desafios. Apesar de alguns serem mais complicados, não são impossíveis. Infelizmente, quem se dedica exclusivamente a completá-los irá terminar tudo em algumas horas.

Uma perspectiva para poucos

Super Destronaut: Land Wars causa uma mistura de sentimentos. É interessante ver a releitura que o estúdio Petite Games realizou de um estilo de jogo já consagrado, e é bom ver a técnica do estúdio evoluindo a cada edição da série. Além disso, algumas modificações no modo de desafios tornam o game mais agradável.

Ao mesmo tempo, decisões de design e a falta de balanceamento de armas e power-ups, além de crashes que anulam toda a pontuação conquistada em uma partida, fazem com que o título não alcance seu potencial como uma boa alternativa arcade para o Switch. Somente quem quer muito um jogo com o qual pode ter alguns minutos de descontração durante o dia a dia deve considerá-lo. Mas precisa querer muito. Se não, é melhor passar reto.

Prós

  • First-person shooter simples e responsivo;
  • Modo de desafios aprimorado, que não depende tanto da sorte.

Contras

  • Desbalanceamento do sistema de compra de itens, tornando o jogador excessivamente poderoso;
  • Modos arcade repetitivos devido ao desbalanceamento;
  • Falta de leaderboards online;
  • Erros que fazem o jogo se encerrar inesperadamente após certo tempo na partida.
Super Destronaut: Land Wars - Switch/PS4/XBO/PS Vita - Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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