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Análise: Cytus Alpha é o melhor jogo que não precisa de controles no Switch

Mas não se preocupe, seus dedos ainda ficarão bem ocupados.



Por acaso, pouco tempo antes de eu ter a oportunidade de jogar Cytus Alpha, senti tanta saudades de batucar uma tela ao toque em Elite Beat Agents (DS) — simplesmente um dos melhores jogos de ritmo de todos os tempos — que até tirei a poeira do velho Nintendo DS. Elite Beat Agents foi um grande jogo no seu tempo e continua uma experiência fantástica até os dias de hoje (se você ainda não jogou, vá em frente), mas admito que Cytus Alpha chegou de repente e, sem muitas dificuldades, desviou minha atenção de volta para o console mais recente da Nintendo. A série Cytus já possui certa notoriedade nas plataformas mobile há algum tempo e possui o impressionante número de mais de 20 milhões de downloads. E, pode ter certeza, seu visual minimalista estiloso, sua ampla seleção de músicas jogáveis, gameplay intuitivo e, principalmente, a excelente curadoria dos ritmos presentes faz com o que título seja uma ótima pedida para fãs de jogos de ritmo no Switch.

Uma história sem muito gingado

Cytus Alpha não perde tempo com sua apresentação, só que ao mesmo tempo não explica nada. Pra quem não conhece a série, como era o meu caso, simplesmente iniciar o jogo e sentir que você está no "lugar certo" pode ser bem mais difícil do que deveria ser. "Ah, é só clicar no 'Story Mode', não? Não. Pela primeira vez na história da minha longa jornada como jogador essa não era a resposta. Em Cytus Alpha, o modo história é literalmente só a história — texto mesmo e colocado de uma forma bem simples e discreta em um menu estilo linha do tempo. O pior de tudo é que, ligando o jogo pela primeira vez, quase nenhum texto aparece e isso deixa tudo ainda mais confuso. "Ah, mas então é só clicar pra jogar e mandar ver, não?" Deveria ser, afinal, até mesmo a opção de selecionar capítulos aparece, o que é típico de um modo história single player. No entanto, um capítulo chamado "DjMax" aparece antes do Capítulo Um e, ainda por cima, toda vez que uma música é escolhida você é obrigado a esperar online por mais 3 oponentes por um tempo desnecessariamente longo.

Confesso que demorei um pouco para entender como Cytus Alpha funciona, mas a verdade é que a essência do jogo é muito mais simples do que eu esperava. A história, por exemplo, que envolve robôs, ficção científica e a música salvando o mundo, serve apenas para dar aquele gostinho de envolvimento (e desenvolvimento) a mais, e só funciona mesmo para quem estiver muito interessado. O online forçado? Bom… é isso mesmo, o foco do jogo são os scores online e a luta constante para ver quem é o melhor dançarino de dedos — pelo menos é bem fácil desligar a opção do pareamento online automático. Por fim, acaba que o estranho capítulo que vem antes do primeiro, DjMax, é um compilado de músicas de um outro bastante popular jogo de ritmo coreano que atende por esse nome.



Depois do DjMax (que inclusive reúne algumas das melhores músicas do jogo), você inicia um trajeto mais tradicional que segue um padrão cíclico de "capítulo, subcapítulo, capítulo". Ou melhor, consiga pontos o bastante no primeiro capítulo para ganhar o direito de jogar as músicas do capítulo "extra". E coletando um número X de pontos por lá, você eventualmente ganha acesso ao capítulo 2 e assim por diante. Os capítulos infelizmente não querem dizer nada (além de um pequeno tema comum que une os ritmos de cada um) e funcionam apenas como uma sucessão constante de músicas. É realmente uma pena que a história fique relegada apenas aos textos opcionais e não tenha um papel maior durante a jornada pelas mais de 200 músicas do título. E a pior parte é que os capítulos raramente contam uma história por si só também.

Em um dos capítulos extras, por exemplo, você acompanha a história de amizade de 2 meninas desde a primeira música até um eventual combate épico entre as duas, com direito até a um final alternativo. Claro que muito do contexto é deixado para interpretação de cada um (os únicos meios de comunicação presentes são a imagem que acompanha a música e a própria canção, afinal), mas ainda é bem legal quando você sente que tem alguma coisa a mais ali além das músicas — e às vezes isso acontece nos capítulos extras, entretanto, é definitivamente um acontecimento raro. 


Balé de indicadores e polegares

Seguindo em frente, calma, não se deixe enganar pela negatividade do começo dessa análise, o "problema" da história simplista/inexistente de Cytus Alpha é essencialmente a única questão realmente negativa nesse viciante jogo de ritmo que faz o que promete da melhor forma. São realmente muitas músicas disponíveis e elas podem ser jogadas em dois modos de dificuldade — e até mesmo o easy consegue ser bastante frenético e difícil — um prato cheio pra quem gosta do gênero.

Quanto ao gameplay, ele é bem o que se espera de um jogo de ritmo e ainda consegue inovar um pouco. Uma linha que corta a tela "viaja" constantemente para cima e para baixo na tela. As notas (círculos coloridos) podem ser laranjas ou azuis, dependendo do momento que eles precisam ser pressionados (quando a linha passa por cima ou por baixo) — o que quer dizer que as indicações podem aparecer em qualquer lugar da tela, e seguí-las requer certa destreza nas mãos e nos dedos. Na maioria das vezes, como é de se esperar de um game de ritmo, e, principalmente nas dificuldades mais altas, o próprio ritmo da música irá ajudá-lo a tocar as notas certas no momento preciso, mais do que qualquer indicação visual na tela. Além disso, dois outros movimentos compõe a experiência rítmica de Cytus Alpha: arrastar a tela como seguindo o movimento de uma seta e segurar (em vez de apertar) uma nota. A combinação entre tocar, arrastar e segurar consegue se transformar em uma sinfonia frenética de dados em pouco tempo. E sim, essa loucura quase automática de movimentos na tela (reminiscente dos riffs mais intensos de Guitar Hero) é o maior trunfo de Cytus Alpha.



Voltando um pouco, há sim um outro ponto negativo que precisa ser mencionado, mas, de certa forma, ele é "opcional". Em oposição ao incrível gameplay fluido e suave que faz você lembrar que o Switch é apenas um tablet, também existe o velho e bom "manete", ou controle para os mais íntimos. Jogar pelo controle simplesmente é péssimo e ponto. Toda aquela nuance da jogatina pela tela (que de tão responsiva, em alguns momentos lembra mais a pegada de um jogo de dança tradicional como um Just Dance ou Dance Dance Revolution) é imediatamente perdida ao se jogar usando o controle, seja com os Joy-Con, o Pro Controller ou até com aquele velho controle guerreiro de Gamecube. Além dos botões tradicionais, os gatilhos do controle são usados para a ação de arrastar, uma ideia boa, no entanto longe de ideal. Na verdade, Cytus Alpha no controle quase parece ser um jogo diferente — e a sensação definitivamente não é a mesma.

É difícil parar de jogar esse jogo. Existe alguma coisa mágica em rhythm games, uma fluidez, um padrão técnico, mnemônico e muscular que tende a ser sempre satisfatório e, evidentemente, viciante. Videogames no seu âmago, eu acredito. O jogo dissolvido a forma mais básica e que mais se aproxima ao seu propósito: seguir comandos, realizar comandos, ser recompensado. No entanto, a questão rítmica também assume um importante papel. Seguir esses comandos em conjunto a um ritmo e uma melodia traz um lado altamente sensorial e humano para um processo que é meio robótico. Jogos musicais geralmente flertam mais diretamente com a arte do que outros gêneros. E Cytus encapsula muito bem essa sensação.



Partindo de sua apresentação polida, simples e atrativa, sua fantástica e variada seleção de faixas (variando de gêneros desde música clássica até rap, pop, eletrônico e, ao mesmo tempo, um mix de tudo isso) e seu gameplay sólido, fluido e divertido, Cytus Alpha chega bastante perto de "arte", ou, no mínimo, de um bom jogo. Claro, o preço é um pouco salgado (50 dólares), algumas músicas são menos memoráveis e jogar com o controle não é lá essas coisas, mas esses fatores não impedem Cytus de ser um dos melhores títulos do Switch no momento — pelo menos para todos aqueles que gostam de jogos de ritmo.

Prós

  • Impecável apresentação (menus, arte, etc.);
  • Legitimamente viciante (quando jogado na tela ao toque);
  • Mais de 200 músicas.
  • Seleção agradável e variada de gêneros musicais.

Contras

  • História meio irrelevante;
  • Preço um pouco alto;
  • Jogar no controle simplesmente não tem graça.
Cytus Alpha - Switch - Nota: 8.5
Revisão: Vinícius Fernandes
Análise produzida com cópia digital cedida pela  Flyhigh Works

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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