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Análise: Heal: Console Edition (Switch) narra visualmente uma jornada em busca de memórias perdidas

Com pouquíssimo texto, este puzzle point-and-click entrega uma história introspectiva sobre os males do Alzheimer.

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Jogos que abordam questões relacionadas à saúde como um todo têm ganhado certo destaque no mercado. Heal: Console Edition, criado por Jesse Makkonen — também responsável por Distraint e Distraint 2 —, chegou ao Switch e demais consoles por meio da Ratalaika Games, mas o título já está disponível para PC (via Steam) desde 2020.

A trama aborda os danos causados pelo mal de Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que faz com que a pessoa gradualmente perca a memória com o passar dos anos. Na pele de um senhor sem nome, o jogador deve conduzi-lo por sete níveis recheados de quebra-cabeças no melhor estilo escape room, a fim de descobrir qual é a cura que o protagonista — que chamarei de Senhor — procura.

O simbolismo do “onde estou”

A atmosfera inquietante de Heal, aliada a uma arte e trilha sonoras melancólicas, é sem dúvidas o ponto forte do jogo. A narrativa é silenciosa, sem o uso de palavras, guiada apenas pelos cenários e quebra-cabeças.

A princípio, Senhor começa sua jornada em sua casa, mas algo está diferente: a porta está trancada e, para sair, é necessário completar uma série de quebra-cabeças. Cada um dos sete estágios se passa em locais diferentes e podemos ver Senhor transitando entre diferentes cômodos de sua residência, um parque e até mesmo uma floresta sombria (o cenário final do jogo).

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O ponto forte do jogo é sua apresentação

Embora muitos dos quebra-cabeças não tenham um significado real nesta narrativa visual, alguns deles trazem pistas — bastante sutis, vale ressaltar — sobre a trama e cabe somente ao jogador desvendar o que aflige Senhor. Em certos momentos, senti pequenas semelhanças com The Almost Gone, que também aposta em puzzles para dar prosseguimento à história.

No final da jornada, apenas o jogador poderá dizer se os cenários eram reais ou apenas fragmentos da memória de Senhor — e já adianto que o desfecho é bastante tocante.

Jogabilidade simples, porém imprecisa

Mesmo que os puzzles não sejam relativamente difíceis e a maioria possa ser resolvida por meio de pistas encontradas nos cenários, a falta de dicas ou a imprecisão nos comandos para solucionar alguns deles podem tornar a jogatina frustrante. Talvez essa seja a única falha grave de Heal, assim como a de muitos outros títulos no estilo escape room e em alguns momentos do supracitado The Almost Gone.

Ainda que variando na complexidade de resolução e às vezes apelando para o uso de um walkthrough, os quebra-cabeças entregam o que prometem dentro de seu gênero. Contudo, seu propósito se perde justamente por não estarem em sintonia com a narrativa.

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Algumas portas escondem dicas para os puzzles

Heal foi originalmente desenvolvido para smartphones e PC como um jogo no estilo point-and-click, algo bastante simples na teoria. Porém, no Switch a jogabilidade acaba se misturando: em alguns momentos, é mais confortável e prático usar a tela sensível ao toque do console híbrido, mas em outros os analógicos e botões são mais úteis na hora de resolver um quebra-cabeça ou até mesmo para movimentar Senhor para a esquerda ou para a direita nos cenários.

Outro ponto negativo é o sistema de salvamento do jogo. O progresso só é registrado quando se completa um nível, e voltar à tela principal também é um caminho longo, já que não existe outra opção a não ser fechar o aplicativo e reabri-lo.

Por fim, mesmo finalizando o jogo, ao selecionar um dos capítulos, todos os quebra-cabeças devem ser solucionados novamente. Talvez isso seja proposital, como uma forma garantir um fator de rejogabilidade, mas revisitar a história não traz nenhuma novidade, já que a versão de Switch não possui um sistema de conquistas.

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Sem opção de voltar à tela inicial

Uma jornada introspectiva

Heal: Console Edition é difícil de ser classificado. Devido às suas mecânicas, este side-scrolling 2D pode ser incluído simultaneamente nos gêneros puzzle e aventura, com alguns elementos psicológicos. Envolver-se com a atmosfera ou não varia de jogador para jogador, já que a falta de contexto aliada à narrativa lenta e puramente visual, proposital para a introspecção pretendida, pode não ser atrativa para muitos.

A jornada de Senhor em busca de suas memórias, no entanto, vale a pena pelos quebra-cabeças bem- elaborados e boa apresentação audiovisual. Mesmo sem um fator de rejogabilidade e com curta duração, Heal pode ser uma boa pedida para quem gosta de escape rooms como um todo.

Prós

  • Ótima apresentação audiovisual;
  • Puzzles bem-desenvolvidos e desafiadores;
  • Jogabilidade simples.

Contras

  • Introspecção e falta de objetividade propositais não atrativas para alguns jogadores;
  • Necessário walkthrough para a resolução de alguns puzzles;
  • Curta duração e sem fator de rejogabilidade.

Heal: Console Edition — Switch/PS4/XBO/Android/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games 


Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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