Discussão

As maiores polêmicas sobre questões LGBTQ+ da Nintendo

Uma breve discussão sobre a representatividade e visibilidade do movimento nos jogos da empresa.


Em celebração ao Pride Month, eu planejava fazer uma matéria como um top 10 ou um dossiê sobre personagens LGBTQ+ da Nintendo. Porém, durante minha pesquisa, percebi que esse tipo de conteúdo nos jogos da empresa são bem escassos, e a maioria dos representantes do movimento são NPCs secundários.


Não vou desmerecer o fato de que a maioria dos jogos da Nintendo sequer exploram a sexualidade de seus personagens, mas é possível perceber uma discreta heteronormatividade nas ações da empresa. Tal atitude pode ser bastante controversa no cenário social atual, visto que a representatividade vem sendo um aspecto cada vez mais relevante na cultura dos games de uns anos para cá.

Por isso, reuni e comentei alguns dos casos mais polêmicos da Big N relacionados com a temática, confira abaixo:

Birdo 

A dinossaura rosa deu as caras pela primeira vez em Super Mario Bros. 2, no qual ela era um boss que disparava ovos contra o jogador. No manual desse game, Birdo é apresentada como Ostro, um dinossauro (sim, no masculino) que acha que é uma garota e prefere ser chamado de "birdetta".

Logo, o primeiro relato da existência da personagem comprova que ela é um ser transgênero, certo? Bem, mais ou menos...

Na descrição de trophy da Birdo em Super Smash Bros. (N64), seu gênero é dado como "indeterminado", porém os pronomes utilizados são femininos.

Mais recentemente, em Super Mario Party (Switch), a confusão só aumentou: a personagem é referida com pronomes de gêneros diferentes dependendo da região na qual o game é jogado.

O que isso significa? Bom, ao que tudo indica, a Nintendo não possui a intenção de oficializar um personagem LGBTQ+, mas também não desmente as teorias. Isso é, de certa forma, decepcionante para a comunidade, já que Birdo seria uma ótima representante de longa data, sendo provavelmente a primeira transgênero no universo dos games.

Vivian 

Vivian é outra personagem transgênero da série Mario, que aparece em Paper Mario: The Thousand-Year Door (GC). No jogo, a fantasma originalmente faz parte de um trio chamado "Shadow Sirens", que planeja atrapalhar a jornada do encanador. Porém, após alguns momentos, é descoberto que Vivian na verdade é do sexo masculino, e constantemente é humilhada por suas parceiras, biologicamente do sexo feminino, por não se enquadrar no grupo.

O desenrolar da história explora muito bem essa rejeição de Vivian, agregando muita emoção inclusive ao estado atual do protagonista (não vou dar spoilers) e na situação em que ele se encontra. O problema é que, na localização do jogo para os Estados Unidos, sua classificação como transgênero é simplesmente excluída.

Sim, uma ótima personagem, ainda que secundária, tem sua construção prejudicada e perde parte de sua profundidade. O motivo: códigos de classificação de conteúdo, já que para muitos a transgeneridade seria algo promíscuo e inapropriado para um jogo.

Tomodachi Life

Provavelmente a polêmica com maior repercussão na mídia, o caso envolvendo o jogo Tomodachi Life (3DS) apenas reforça a posição da empresa sobre questões LGBTQ+. O game para o portátil simula aspectos da vida real por meio dos icônicos avatares da Nintendo: os Miis.


No jogo, é possível fazer amigos, construir relacionamentos e até casar. Porém, essa última opção é exclusiva para relacionamentos entre homens e mulheres. Tal adição vem sendo explorada em títulos de simulação mais recentes, como em Stardew Valley e versões mais novas dos jogos da série The Sims.

Apesar da revolta de alguns jogadores e da própria comunidade, que chegaram a subir a hashtag #Miiquality nas redes sociais para a implantação dessa opção no jogo, a Nintendo decidiu deixar de lado essa discussão e manter o game como foi lançado originalmente.

Novamente, a empresa preferiu manter-se neutra sobre essa questão e usou a desculpa de que o jogo não simula a vida real, mas sim um mundo alternativo e divertido. Além disso, complementou em uma declaração que o jogo deveria ser apenas uma forma de recreação, e não tinha a intenção de abordar questões sociais.

Representatividade?

Antes de finalizar essa discussão, acho que vale citar outros personagens de jogos da Nintendo que supostamente (alguns não possuem a orientação sexual e identidade de gênero reveladas) se enquadram no movimento: o soldado Leon, de Fire Emblem, o carismático vilão Ghirahim e a comerciante Vilia, da série The Legend of Zelda, e, segundo o produtor Koichi Hayashida em uma entrevista, os Toads do universo de Mario, que seriam uma raça sem gênero mas com aparências de outros gêneros. 
Toad e Toadette não possuem relações românticas.


Enfim, ao levar em consideração que a maioria desses personagens e revelações são relativamente recentes, pode-se dizer que o movimento não é totalmente deixado de lado pela casualidade da empresa no cenário atual. Ainda que bem longe do protagonismo, existem representantes LGBTQ+s nos jogos da Nintendo. Agora basta esperar que, em futuros lançamentos, essa comunidade ganhe mais visibilidade.

Revisão: Vinícius Fernandes

Estudante de publicidade que saiu do interior de Goiás para viver na cidade grande. Apaixonado por jogos, musicais e animações, passa bastante tempo no Twitter comentando sobre esses assuntos.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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