Crônica

Como Pokémon GO (Mobile) revive o bom e velho multiplayer local

Jogo dos monstrinhos tira cada vez mais proveito da mecânica do trabalho em equipe.


O horário marca 17 horas e 35 minutos. Porto Alegre, como toda grande cidade brasileira, não esconde seu caos. Não esconde os ônibus lotados, trânsito parado e filas de carro. Dentro do smartphone, uma notificação em um grupo: "Reide Cinco Estrelas em alguns minutos, quem topa?" As respostas variam: "Não sei se chego a tempo", "Só vou se abrir Darkrai", "Será que vai ter quórum suficiente?". Tudo isso até a hora de um player organizar uma lista:


Reide Nível 5 - Escultura de Ferro
Abre: 17:50
Fazer: 18:25
TraceySketchit - Nível 32

Pouco a pouco a lista vai se preenchendo de jogadores que moram, estudam ou trabalham pelas redondezas. Só em Porto Alegre, muitos treinadores se reúnem em grupos do WhatsApp conforme proximidades, como parques, bairros ou regiões. O grupo de Pokémon GO do Parcão é um deles, contando com quase 300 usuários.

Mesmo com o caos do horário, quando as pessoas saem do trabalho e enfrentam a dificuldade do deslocamento, na chegada ao local marcado, três conhecidos se encontram e interagem sobre a possibilidade de concluir a reide. A preocupação aumenta enquanto o tempo restante diminui. Alguns players que se encaminhavam para ali sinalizam que estão trancados no trânsito. Outros fatores avaliados são os níveis de cada jogador e a quantidade de counters super efetivos contra determinado Pokémon que ocupa a reide: "Sou level 32, será que meu Machamp aguenta?"

Enquanto se aproximava das 18 horas e 25 minutos, um alívio aos três treinadores que encararam o caos da cidade para batalhar: a chegada de um casal - membros do grupo Pokémon GO Parcão e conhecidos dos outros três, por sinal - aumenta as chances de sucesso na batalha. Com Machamps, Gardevoirs e Haryiramas, os cinco jogadores da zona norte de Porto Alegre iniciam sua jogada.

Alguns minutos se passam e a alegria já pode ser percebida. A equipe de cinco treinadores, que se conhecem por terem feito um laço através de Pokémon GO, conquista a batalha e todos capturam seu prêmio: o lendário Darkrai. Um dos jogadores sugere uma nova rota para batalharem em mais reides, mas é convencido a não seguir ao ver a chuva se aproximar.


O conceito de Multiplayer não é novidade nenhuma há anos. Estamos acostumados a dividir o controle ou a tela com nossos amigos, irmãos, primos e muito mais. Se enquanto no Super Nintendo esse fator já aparecia, tipo em Super Mario Kart, no Nintendo 64 o multiplayer parecia quase que obrigatório para maior diversão: Mario Tennis, Super Smash Bros., Mario Kart 64 ou Goldeneye 007. A ideia era sempre ter um controle reserva para uma visita jogar junto. Com a escalada do tempo, essa ideia foi desaparecendo, mas por uma causa muito nobre: a partir das novas gerações de consoles, o online dominava. O fato de poder competir com alguém do outro lado do mundo animava muito e fornecia horas extras desses jogos que trabalhavam com a estratégia de vários competidores.

O relacionamento com o "outro" mudou. O controle extra sumiu para a chegada da Internet Wi-Fi. No que se ganhava na diversidade de poder jogar com muitos players, de todos os lugares, sumiu - embora ainda aconteça e seja possível - o encontro presencial. Nesse aspecto, Pokémon GO trouxe a eventualidade do encontro. Do testemunho entre conhecidos e na formação de novas amizades. E isso surgiu principalmente com a ideia das reides.


A ideia das batalhas em reide do Pokémon GO é uma forma de revitalização do multiplayer local, pois exige a proximidade dos jogadores em determinada PokéStop que contenha uma reide. Divididos em seus grupos, treinadores conhecem uns aos outro. Sabem quem frequenta a região e sabem o poder de fogo de cada um. Pokémon GO foi feito com o intuito de fazer as pessoas saírem de casa e explorar a cidade. Contudo, antes da criação das reides, a ideia não era de juntar jogadores para batalhar contra uma força maior e adquirir possibilidades de capturar algum lendário, exclusivo ou mais poderoso. A criação das reides exigiu um laço multiplayer. Antes, pessoas passeavam e capturavam Pokémon com amigos,  mas não interagiam entre os celulares. Agora, o jogo estimula o trabalho em equipe e a união dos treinadores das cidades.


Pokémon GO se mostra super efetivo na união da comunidade. Para conquistar ginásios e capturar lendários que ocupam as reides cinco estrelas, jogadores buscam a interação com os grupos do jogo. Aos poucos, o jogo e a franquia se renovam nesse quesito, inclusive promovendo eventos, como foi o caso do Pokémon GO Safari em Porto Alegre e da Hora Lendária. Algo semelhante também aparenta estar presente no próximo lançamento da série, Pokémon Sword/Shield (Switch). Antigamente podíamos dizer que "jogar com um amigo sempre era melhor", e agora podemos dizer o mesmo para Pokémon GO, incrementando ainda a frase: "jogar com um amigo sempre é melhor e - inclusive- mais fácil", na medida em que a união derruba reides mais facilmente.

Com a noite chegando, após derrubarem Darkrai, os cinco treinadores, conhecidos e amigos da zona norte de Porto Alegre, se despedem. Cada um se encaminha para sua casa, mas com a certeza que irão se encontrar novamente, sabendo que o multiplayer de Pokémon GO é capaz de unir os treinadores mais ambiciosos de sua região, que buscam completar a Pokedex e ser um mestre Pokémon.

Revisão: Vladimir Machado

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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