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Análise: The Legend of Zelda: Link’s Awakening (Switch) é o sonho de remake que todo jogador desejava

Link se perde no oceano e novamente acorda em Koholint, dessa vez com um visual repaginado.


É chegada a época na qual os fãs se animam e mais um grande título da franquia The Legend of Zelda vem à tona. Como nunca antes, um lançamento pertencente à era 8-bits ganhou uma abordagem muito mais carismática, proporcionando uma experiência revolucionária e atual aos novos fãs e, para aqueles que já jogaram, uma versão definitiva do clássico de 1993 — certamente um jogo obrigatório na coleção de ambos os tipos de jogador.


The Legend of Zelda: Link’s Awakening dá os primeiros passos em uma história inovadora para a franquia, sendo “o primeiro Zelda sem a princesa Zelda”! Nós jogamos o remake e, mesmo não sendo livre de problemas, o título é fiel ao original e se ambienta em um universo lotado de referências, com uma pequena pitada de extras que podem agradar aos fãs. Não deixe de conferir a análise de mais esse título desenvolvido pela Grezzo.

Novos náufragos, sejam bem-vindos!

Ondas, uma tempestade e uma jangada de madeira. A combinação desses elementos não pode dar certo. É com essa simples premissa que começa a aventura do nosso herói de capuz verde. Em uma cena no estilo artístico de animes, Link é atingido por um raio em alto mar e acaba sendo acordado na praia por Marin. Ali, descobre que está na desconhecida Koholint Island.

Os momentos de reconhecimento inicial do território já introduzem alguns dos principais personagens que te acompanharão na jornada. A carismática Marin conta as histórias sobre a existência do Wind Fish, um peixe há muito adormecido no interior do ovo que está no topo da montanha mais alta da ilha. Ela é conhecedora de belas músicas e um pouco tímida, perfeita para preencher o espaço vazio deixado pela ausência da princesa Zelda.

Além disso, o guia de sua aventura será a Coruja. Enigmática e sem aparente motivo para estar te ajudando, ela vai direto ao ponto: você só poderá escapar da ilha se acordar o Wind Fish em seu ovo. Para isso, precisará encontrar todos os instrumentos musicais guardados pelos monstros para tocar a Ballad of the Wind Fish. Mas cuidado: os monstros tentarão te impedir, pois a partir do momento que o peixe acordar, tudo na ilha deixará de existir. Se é o único jeito do rapaz escapar de lá, qual a outra alternativa? Vamos à aventura!

De forma linear, o personagem será guiado dungeon a dungeon para recuperar cada um dos oito instrumentos musicais — a combinação perfeita para criar uma aventura de The Legend of Zelda. A cada desafio, são introduzidas novas variedades de inimigos e novas mecânicas a partir dos vários itens que o herói vai adquirindo. Progressivamente, novas áreas são liberadas na ilha até que todo o mapa esteja revelado.

Se você não está familiarizado com o conceito, títulos como The Legend of Zelda: A Link to the Past (SNES) progridem da mesma forma, pois cada dungeon te dá um novo item que permite o acesso a áreas inexploradas do mapa. A diferença aqui está na completa linearidade: você não pode escolher a ordem em que enfrentará cada um dos desafios e, inclusive, ao terminar cada um deles você receberá orientações sobre o próximo local que deve visitar.

Cada novo ambiente revela algumas peculiaridades, novos personagens e novos inimigos. Sejam pedras caindo nas montanhas de Tal Tal Heights, as corredeiras no minigame de Rapids Ride ou apenas a beleza da praia de Toronbo Shores, cada um deles se torna agradável ao olhar do jogador, que visitará cada um dos espaços muitas vezes durante a aventura.

Assim como o título original, o remake de Link’s Awakening dá poucas instruções ao jogador do que deve ser feito — característica clássica dos títulos mais antigos no mundo dos videogames. Muitas vezes você estará sem saber onde deve ir e terá que quebrar a cabeça para encontrar os itens necessários. Pode parecer frustrante, mas acredito que permite ao jogador conhecer melhor cada uma das regiões visitadas, não deixando que nenhuma delas passe em branco.


Para o progresso do jogo, uma mecânica muito interessante é a troca de itens com diversos personagens. A partir de um artefato inicial encontrado durante a aventura — um boneco do Yoshi em Mabe Village —, Link vai fazendo trocas com os personagens que precisam e, em geral, recebe outro item. Toda a cadeia de itens é necessária para a finalização do jogo e é um dos principais motivos do vai e vem pelo mapa.

Porém, se você está perdido, encontrará apoio nas cabines telefônicas do velho Ulrira. Um idoso tímido para o qual você poderá fazer ligações em estações espalhadas por todo o mapa e receber dicas sobre o próximo local que deverá visitar. Nem sempre transmitidos de forma clara, os conselhos podem dar alguma pista sobre a aventura, eliminando as frustrações que podem ocorrer ao ficar perdido.

Por esses motivos, The Legend of Zelda: Link’s Awakening precisa estar nos downloads de qualquer fã da série que nunca experimentou o título original. Por outro lado, aqueles que já a experimentaram estão enganados se pensam que não encontrarão nenhuma novidade no título. Mesmo tendo poucas adições em relação ao original, o remake é a versão definitiva de um jogo do século passado.

O remake dos sonhos para quem já visitou a ilha

Sempre que um remake é lançado, os fãs se questionam: vale a pena vivenciar a experiência novamente, se já sei tudo o que acontece? Neste Zelda, você com certeza vai querer explorar Koholint mais uma vez. Não se uma mera repetição dos sprites feitos para o Game Boy: aqui a aventura foi toda reimaginada em seu estilo artístico único, incorporando os elementos que deram certo em outros jogos recentes da franquia.

Da forma como os modelos tridimensionais foram criados, com seus reflexos difusos, em conjunto com uma trilha sonora que parece constantemente tocada em uma vitrola, a nostalgia evidencia-se em um mundo que quase parece feito de brinquedo. Pode parecer infantil, mas torna-se para muitos uma bela lembrança da infância, mas muito parecida com os outros jogos mais recentes de Zelda com vista top-down.

Um dos momentos em que o jogador mais vai sentir que está em um mundo miniaturizado é quando sobe a montanha para ir ao ovo. A curta subida e as nuvens dão a sensação de que Link está em um pequeno mundo de brinquedo, tornando a jogatina agradável aos olhos de qualquer fã.

Além disso, o universo está lotado de referências. Por ser uma sequência direta de A Link to the Past e estrelando o mesmo protagonista, você encontrará vários inimigos já conhecidos, como a minhoca gigante Moldorm, já recorrente na série. Por outro lado, aparições inusitadas ganham a vez no universo de Link’s Awakening, ou você não acha estranho esbarrar com Goombas e Chain Chomps?

Sim, eles podem causar estranheza aos mais conservadores. Porém, saiba que esses inimigos já se encontraram na aventura original. Os estrangeiros do mundo do Mario nunca tinham feito uma aparição em Zelda e, por incrível que pareça, se adaptaram muito bem a esse universo com a inserção dos trechos de plataforma 2D.


Em todas as dungeons do jogo há algumas salas conectadas por escadas que, por sua vez, estão ligadas por um trecho similar a um jogo de plataforma 2D. Mesmo sendo possível pular nos Goombas, como faria o nosso amigo encanador, também se consegue atacar com a espada e arco-e-flecha, ou você pode só fugir. Esses trechos são uma bela novidade que nunca mais havia dado as caras na franquia, e elevam a dificuldade na exploração das fortalezas de forma justa, já que não é possível visualizar no mapa quais as conexões entre as passagens.

A escolha dos locais em que devem ser inseridos esses elementos externos à série são, desde o jogo original, equilibradas o suficiente para que não tirem o jogador do universo de Zelda. Por isso, são muito bem-vindas. Depois de dois ou três chefes, tenho certeza que você estará aguardando pelos momentos em que encontrará mais um inimigo do Mario.

Perfeito em todos os aspectos?

Será que só das boas decisões dos desenvolvedores do título original devem viver os criadores de um remake? O processo de revisitação de um título para uma franquia como Zelda deve tomar cuidado para que o legado de uma experiência marcante não se esvaia por completo em uma experiência frustrante. Mas fique tranquilo: The Legend of Zelda: Link’s Awakening pode até cometer alguns deslizes, mas pode sim ser considerado a experiência definitiva da aventura de Game Boy.

O primeiro — e talvez único — dos grandes problemas do título é seu desempenho gráfico. Você talvez já tenha encontrado notícias circulando pela internet informando sobre a frequente queda de framerate do título. Se esse problema fosse um pequeno detalhe que ocorresse de forma ocasional, não seria incômodo para a maioria dos jogadores. O fato, porém, é que as falhas são frequentes e incomodam.

A cada novo ambiente visitado, provavelmente quando novos elementos são carregados na tela, o jogo perde sua fluidez nos movimentos do personagem. Depois de um tempo jogando, a maior satisfação que eu encontrei eram os poucos trechos do título em que a taxa de atualização da tela estava perfeita.

Certamente, os especialistas dizem que não só de gráficos deve viver um título, mas a falta de atenção em um ponto tão importante de um jogo de destaque para a franquia Zelda não poderia ter passado despercebido até o lançamento. Provavelmente, ao inserir tantos elementos gráficos agradáveis aos olhos na tela e acrescentar um efeito de desfoque nas bordas, os desenvolvedores acabaram ultrapassando a capacidade máxima de processamento do Switch.

A aventura definitiva

The Legend of Zelda: Link’s Awakening destoa da maioria dos jogos da franquia ao ter menor quantidade de conteúdo, podendo ser finalizado em cerca de 15 horas. Assim como no original, preserva-se essa característica no remake, pois a repaginação da aventura trata somente de entregar uma experiência idêntica à primeira, com a adição de poucos extras.

Em muitos remakes, é comum que sejam acrescentadas novidades, seja ao longo da história ou na forma de aventuras pós-jogo. Em Link’s Awakening, porém, você não encontrará muitas mudanças, sendo uma das únicas de destaque a criação do Dampé’s Shack.

Em sua cabana, que agora substitui o fotógrafo, Dampé é coveiro e colecionador de algumas pedras esquisitas. Lá, você será apresentado ao que poderíamos chamar de “Zelda Maker”, um completo sistema para montar as suas próprias dungeons com as salas que já visitou ao longo da jornada. Além disso, o coveiro lhe apresentará alguns desafios a serem cumpridos, como o de criar uma fase que atravesse determinados locais e inclua alguns baús.


A novidade pode render algumas horas de diversão, mas limita-se a entreter o jogador somente enquanto cria as suas próprias dungeons. Podendo compartilhar apenas por meio dos amiibo, o jogador se verá limitado a convidar seus amigos para que joguem os desafios no próprio Switch em que foram criados. Essa, provavelmente, foi uma forma de experimentar novas ideias com os jogadores para que, quem sabe, o futuro traga novos spin-offs da franquia.

Ainda assim, The Legend of Zelda: Link’s Awakening merece toda a nossa atenção e respeito. A simples recriação do conteúdo de 1993 em um visual miniaturizado e com trilha sonora magnífica irá impressionar tanto àqueles que já jogaram a aventura quanto os novatos. Afinal, um título que tanto inovou na época, trazendo a plataforma 2D, inimigos do Mario e deixando a própria princesa Zelda de lado, não poderia ficar esquecido apenas em uma memória.

Prós

  • Uma aventura clássica da franquia Zelda para os novos jogadores;
  • A experiência definitiva de Link’s Awakening para os veteranos;
  • Belos visuais em miniatura;
  • Arranjos musicais repaginados para o novo visual;
  • Dificuldade na exploração mantida como no título original.

Contras

  • Limita-se a recriar a experiência original, com adição de poucos extras;
  • Possui falhas de desempenho inaceitáveis para a franquia.
The Legend of Zelda: Link's Awakening — Switch — Nota: 9.0
Revisão: Davi Sousa
The Legend of Zelda: Link's Awakening está disponível na Loja Nintendo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo 

É diretor de redação do Nintendo Blast e fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software. Quando sobra um tempinho entre as jogatinas e o dia a dia, aparece lá no Twitter como @niccomch.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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