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Análise: Knights of Pen & Paper 2: Deluxiest Edition é mais do mesmo no Switch

Pelo visto a tinta foi toda gasta no primeiro jogo, mas ainda assim esta sequência não é de se amassar e jogar fora.


Knights of Pen & Paper 2: Deluxiest Edition é a versão completa da continuação de Knigts of Pen & Paper — grande sucesso indie dos brasileiros do Behold Studios, lançado em 2013. Enquanto os designers brazucas deixaram a franquia para trás e foram se aventurar no simulador de Super Sentai, Chroma Squad, a sequência acabou nas mãos dos finlandeses do estúdio Kyy Games.


Knights of Pen & Paper 2 foi lançado originalmente em 2015 para computadores e smartphones, mas agora recebe um tratamento especial para sua estreia em consoles domésticos, contando com diversas expansões e refinamentos que dão sobrevida ao game. No Switch, claro, o título brilha ainda mais por conta das possibilidades híbridas do console da Nintendo.

Uma caneta na mão e imaginação na cabeça

A ideia é a seguinte: alguns amigos juntam-se em volta de uma mesa contando apenas com algumas folhas de papel, canetas e muita imaginação (e o livro de regras, é claro). De um lado, o Dungeon Master, mestre de campanha que descreve os acontecimentos e gerencia as ações de NPC's (personagens não controláveis). Do outro, os "aventureiros" que vão enfrentar todas os desafios propostos pelo mandachuva.

Na hora de montar as fichas de personagens, o game apresenta diversas opções. Você pode escolher a personalidade (Surfista, Roqueiro, Atleta, Nerd, etc.), a Raça (Humano, Elfo e Anão) e a classe (Bárbaro, Ladrão, Paladino, Mago, etc.), cada característica oferece vantagens exclusivas e muitas variações interessantes para o seu guerreiro imaginário. Ao longo da campanha, outras opções podem ser desbloqueadas em missões específicas, e é possível trocar os aventureiros ativos nas cidades do jogo.


O título tem uma apresentação minimalista ao extremo, com sons e músicas em chiptunes e pixel art quase estático (as animações são muito básicas). Mas tem seu charme! A arte é colorida e evoluiu bastante o estilo que já tinha sido consagrado no game anterior. Todos os personagens aparecem na tela com números que representam a ordem de ações na batalha. Diferentes atributos influenciam aspectos de ataque, defesa, magia, etc., numa versão muito parecida — mas bem simplificada — do RPG de mesa Dungeons & Dragons.

Apesar de, teoricamente, ser uma continuação da campanha do primeiro jogo, não há motivo para se preocupar com isso. Logo no início o mestre reinventa as regras e a continuidade perde a importância. E mais, a história é completamente esquecível: utiliza todos os clichês possíveis dos mundos de fantasia que conhecemos, com dezenas de referências a franquias famosas e ao mundo geek em geral. Por vezes o título acerta na mosca e tem sacadas e homenagens bem divertidas, mas no resto do tempo as piadas e alusões passam batidas. Tudo legendado em português, pelo menos.

RPG de mundo fechado

A evolução dos guerreiros é limitada a meros números, não há quaisquer novas habilidades a serem aprendidas ou troca de classes, por exemplo. Existem apenas 3 ações básicas durante toda a aventura: gerenciamento de menus, diálogos e batalhas. Todo o jogo gira em torno dessas três atividades. Em alguns poucos momentos há a possibilidade de escolher entre duas opções de ação ou diálogo, mas é raro e mal aproveitado.

Basicamente, toda a aventura se limita a falar com NPC's que pedirão favores em outros lugares do mapa. O grupo, então, se desloca até os locais de missão e completa as tarefas, recebendo ouro e XP pelo caminho. Despretensioso, não é mesmo? Quando os personagens sobem de nível, você ganha um mísero pontinho para gastar em uma das quatro habilidades pré-determinadas dos aventureiros.


As batalhas são em turnos, com a ordem de ação dependendo do atributo iniciativa dos personagens. Cada um dos heróis têm competências específicas dependendo da classe escolhida, e podem variar desde ataques superpoderosos que atingem diversos inimigos até magias de cura. A estratégia fica por conta de escolher com cuidado a ordem dos ataques, para se livrar dos inimigos do jeito certo. Se já jogou o primeiro — ou qualquer RPG por turnos — se sentirá em casa.

 Um dos aspectos mais bacanas de Kights of Pen & Paper 2 é a exploração de dungeons, sala a sala. O "mestre" indica no mapa onde o grupo está e basta escolher entre as opções de câmaras adjacentes a serem exploradas. Nessas salas, o jogador pode se deparar com tesouros, tumbas com inimigos, armadilhas, a escada para o andar inferior, etc. É uma pena que essas missões sejam tão simplificadas e pouco aproveitadas durante o game, não há sequer alguns puzzles para serem solucionados e diversificar a jogabilidade.

Acabou a magia

Nas primeiras três ou quatro horas de aventura eu estava apaixonado pelo charme do visual colorido e por todas as referências à cultura do RPG de mesa que fez parte da minha vida durante um bom tempo. Mas em algum momento do processo um gatilho foi ativado e percebi que a minha experiência na primeira hora de jogo era exatamente a mesma em todo o resto, num loop constante.

Infelizmente, esse também foi um problema que afetou o primeiro Knights of Pen & Paper. No entanto, no jogo anterior ainda existia a sensação de novidade, aqui a magia se quebra muito mais rápido. A sequência ainda adicionou algumas novidades como mais opções de escolha de equipamentos e armas e um novíssimo sistema de crafting onde é possível juntar itens para forjar outros mais poderosos. É interessante, mas acrescenta pouco.


Ao final das minhas quase quinze horas de jogatina, já estava pulando diversos diálogo, o que é um péssimo sinal. Simplesmente perdi o interesse nas conversas paralelas e só acompanhei os acontecimentos realmente importantes para a campanha principal. Mas, sejamos sinceros, a história é tão rasa que pouco importa.

Onde Knights of Pen & Paper 2 não falha é na quantidade de conteúdo. Há muito a fazer após os créditos finais, além de diversos extras a serem desbloqueados. Essa versão do título oferece a experiência completa, contando com expansões recheadas de missões adicionais e dungeons com alguns dos inimigos mais casca grossa de todo o jogo. Prato cheio para quem procura desafio pós-game.

Reaproveitando a ficha de personagem

Não me entenda mal, Knights of Pen & Paper 2: Deluxiest Edition oferece boas horas de um passatempo descompromissado. Porém, depois de um tempo se torna extremamente repetitivo. Parece que toda a tinta foi gasta no primeiro jogo — mais especificamente na composição dessa ideia bacana de simular uma mesa de RPG entre amigos. É mais do mesmo, mas ainda assim o charme do visual e das referências à cultura pop pode oferecer uma experiência divertida para quem não está esperando um game revolucionário. Definitivamente não é de se amassar e jogar fora.

Prós

  • Visual retrô colorido e charmoso;
  • Referências divertidas a clássicos da cultura pop;
  • Explorar dungeons é bem divertido;
  • Evolução viciante no início da jornada.

Contras

  • Poucas novidades em comparação ao primeiro jogo;
  • Ideias legais muito mal aproveitadas, como exploração de dungeons e as opções de diálogos;
  • Extremamente repetitivo depois de um tempo.
Knights of Pen&Paper 2: Deluxiest Edition — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
 Análise produzida com cópia digital cedida pela Seaven Studio

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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