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Análise: Blazing Beaks (Switch) tem potencial, mas o desperdiça

Com inspirações em grandes roguelikes, Blazing Beaks tenta inovar com a exploração entre risco e recompensa, mas peca em muitos aspectos cruciais


Blazing Beaks apresenta diretamente as suas influências em roguelikes como Nuclear Throne, até mesmo na sua estética. Porém, nesse universo em que o jogador controla animais com bicos (justificando o título do jogo), a quantidade e qualidade do conteúdo não o coloca no mesmo patamar dos grandes roguelikes.

Premissa

É um tanto difícil descrever exatamente o que Blazing Beaks tenta ser, mas podemos partir de um ponto geral de que ele é um roguelike e, portanto, estimula a repetição, aprendizado estratégico e mecânico, e contém uma certa progressão. Porém, mesmo esses elementos fundamentais não se manifestam de uma maneira clara e bem definida.



Por exemplo, um jogador experiente de Enter the Gungeon ou The Binding of Isaac tem acesso a escolhas para fortalecer o seu personagem em uma determinada run, caso ele esteja precisando de mais força, sobrevivência, itens passivos, etc. E, ainda nesses dois exemplos, existem grandes progressões ao desbloquear personagens, itens, áreas e muito mais. Todos esses elementos são extremamente escassos em Blazing Beaks.

Sobre a premissa, parece-me um tanto estranho chamar o “modo normal” de “modo história”, visto que não há nenhuma progressão narrativa. Pelo menos serve de contraste com os modos multiplayer, que são interessantes, mas que não oferecem suporte online.

As possibilidades no modo multiplayer são bem variadas, indo de simples deathmatches à ideias únicas como Skull Keeper, em que os jogadores precisam segurar uma caveira dourada sem perdê-la durante a luta. Porém, em um caso desses, boas experiências multiplayer não servem para redimir outros erros, pois acredito que todo jogo torna-se divertido com amigos.

Variedade

É possível afirmar que um dos principais fatores que classificam um bom roguelike é a sua longevidade, proporcionada quase que inteiramente pela sua variedade. Blazing Beaks tenta suprir isso com 8 personagens pouco interessantes, por volta de 70 itens que interagem pouco entre si, algumas dezenas de armas e 5 áreas cada uma com um único chefão.


Pouquíssimo disso está atrelado à progressão do jogador ao longo das runs, o que tira grande parte do incentivo de continuar jogando. Se formos comparar apenas os itens, que funcionam como a principal recompensa, o The Binding of Isaac original tinha mais que o dobro e eram muito mais interessantes!

Mesmo que os inimigos carreguem fortes semelhanças entre si, ainda elogio a diversidade deles ao longo das fases. O posicionamento do jogador e as investidas para os derrotar de fato é bem influenciada pelos tipos de monstros presentes em cada nível.

Ideias Vs. Execução

Ao ver os trailers de Blazing Beaks, é muito evidente o foco dado ao sistema de Artefacts. Basicamente, ao contrário de receber os itens diretamente, ao derrotar um inimigo há uma chance de que apareça um Artefact, ou seja, um objeto com efeitos negativos ao jogador, como menor velocidade de movimento, perda de moedas, etc. Ao chegar no shop, o jogador pode trocá-los por itens “de verdade”, acabando com os efeitos negativos e com a possibilidade de ficar mais poderoso.


A ideia é fantástica e, em tese, daria ao jogador uma grande potencialidade de escolha entre risco e recompensa. Porém, na prática, é um sistema que depende totalmente de sorte, principalmente no começo do jogo. Limitando severamente a obtenção de itens passivos por meio desse sistema, parece-me que os Artefacts e a frequência dos shops não são coisas bem balanceadas, mesmo no lançamento oficial.

Em suma, a melhor estratégia para se vencer o jogo é pegar todos os Artefacts na primeira área, tentar acumular em torno de oito moedas, comprar uma arma no shop e pronto. O resto é gerenciar quais efeitos negativos não te matarão, tentar não tomar dano e, conhecendo minimamente bem os golpes dos inimigos, é possível vencer o jogo. Nem precisa se preocupar com outras armas, e os itens passivos que vierem devem ajudar de alguma forma. Na minha experiência, o personagem galinha se mostrou bem efetivo nessa estratégia, permitindo uma maior distância entre você e os monstros.


Por fim, tenho outros problemas com as armadilhas que muito comumente matam inimigos (antes mesmo do personagem poder se mexer em uma fase) e outros detalhes menores. Sinceramente, eu recomendaria Blazing Beaks apenas para uma pessoa viciada em roguelikes e que já se enjoou de todos os grandes títulos, mas, ainda assim, eu teria um pé atrás.

Prós:

  • Estética cartunesca divertida;
  • Bom modo multiplayer, mesmo que só local.

Contras:

  • Pouquíssimo conteúdo disponível;
  • Sistemas desbalanceados e injustos;
  • Itens, personagens e armas pouco interessantes;
  • Dependência excessiva em sorte.
Blazing Beaks - Switch/PC - Nota: 4.0
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela QubicGames 
Revisão: Vinícius Fernandes

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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