Blast from the Past

Final Fantasy VI (SNES) fecha com chave de ouro a era dos 16-bits

Final Fantasy VI é uma obra-prima magistral que deve ser jogado por qualquer fã de RPGs japoneses.


Considerado por muitos o melhor jogo da franquia, o último Final Fantasy numerado a aparecer em um console da Nintendo com exclusividade figura facilmente na lista de melhores RPGs de todos os tempos, e por que não de melhores jogos de todos os tempos? Sempre presente na memória dos mais saudosistas, Locke e sua turma precisam correr contra o tempo para libertar o mundo da tirania do império e das loucuras de um dos melhores vilões dos videogames, o lunático e imprevisível Kefka. Entre castelos e dragões, descubra por que Final Fantasy VI é um dos melhores RPGs já lançados em um console da Nintendo.

A fantasia final da era dos 16 bits

Final Fantasy VI foi lançado nos EUA em 1994 como Final Fantasy III, já que os jogos anteriores não tinham saído do Japão até aquela data. Apenas o primeiro e o quarto jogo foram lançados na terra do Tio Sam, com as numerações I e II para não confundir o público gringo. Mais tarde a Squaresoft iria trabalhar com a numeração original e lançar todos os jogos que não foram traduzidos para o inglês.


Sendo o primeiro jogo que não foi dirigido diretamente por Hinorubu Sakaguchi, criador da série, Final Fantasy VI foi dirigido por Yoshinori Kitase e Hiroyuki Ito. Estão presentes também Yoshitaka Amano, ilustrador que sempre trabalhou no design dos personagens desde o primeiro jogo, além do lendário compositor Nobuo Uematsu. Apesar da temática medieval, o jogo inova ao trazer um ambiente de segunda revolução industrial, em um clima steampunk. Na história, você pode controlar até 14 personagens que lutam contra um império tirano.

Cada personagem tem sua história e motivos, e o destino de todos eles acabam se cruzando diante da ameaça do império em trazer o apocalipse ao tentar reviver armas biológicas capazes de usar mágica. Em Final Fantasy VI, tudo gira em torno de criaturas conhecidas como Espers. Estes, além de poderem usar magia por natureza, quando morrem dão origem a cristais conhecidos como Magicites. Esses Magicites, quando equipados em um personagem, dão a ele a capacidade de usar magia. Por isso os Espers e as Magicites são caçadas pelo império sedento de poder.

Alguns plot twist aqui e outros ali, Final Fantasy VI apresenta uma das histórias mais interessantes de toda a saga. O jogo foi portado para o Playstation em 1999 e para Game Boy Advance em 2006. Em 2011 o jogo chegou no Virtual Console do Wii e em 2017 foi relançado no pacote que acompanhava o SNES Classic Edition.

Renovando uma fórmula de sucesso

Como nos jogos anteriores da franquia, a ação de Final Fantasy VI se passa em um mapa, em cidades e dungeons. Ele utiliza o sistema de combate em turnos, onde tanto os inimigos quanto o jogador têm um momento para poder realizar uma ação, que pode ser ataque físico, itens ou utilização de magias. Essas ações são realizadas em turno, ou seja, uma vez para o inimigo, outra para o jogador e assim sucessivamente.


Os inimigos atacam conforme o jogador anda pelo mapa ou por uma dungeon, de forma aleatória e imprevisível. O jogador não consegue ver os inimigos até a hora em que ele é atacado. Quando isso acontece o jogo corta para uma outra tela, onde os personagens aparecem e os menus com os comandos ficam visíveis bem abaixo deles. Essa dinâmica é conhecida como encontros aleatórios, e é através dessas batalhas que os personagens ganham pontos de experiência.

As batalhas também oferecem pontos de magia, ou Magic Points. Com esses pontos, cada personagem evolui sua Magicite e ganha habilidades mágicas. Magicites são cristais que aparecem sempre quando um Esper morre, e cada cristal dá direito a usar uma invocação, além de possuir um conjunto de magias que podem ser aprendidas com uma certa quantidade de Magic Points. Quando todas as magias de uma Magicite são aprendidas, o cristal pode ser equipado em outro personagem, para que esse possa aprender as magias daquele cristal.

Fazendo isso, você tem a possibilidade de traçar uma estratégia para o conjunto de personagens que você controla nas batalhas, decidindo quais magias cada um deles vai aprender. Isso dá mais liberdade ao jogador quando comparado aos games anteriores da franquia, onde as habilidades mágicas estavam vinculadas a alguns personagens específicos ou profissões. Antes, apenas um mago negro poderia usar magia negra, ou um mago branco poderia usar cura. Em Final Fantasy VI qualquer personagem pode usar qualquer tipo de magia desde que aprenda por meio das Magicites.

Outra inovação são as habilidades especiais que cada personagem possui. Sabin pode utilizar golpes através de uma combinação de botões, como em um jogo de luta. Edgard pode utilizar diversas ferramentas como arcos e até uma serra elétrica, enquanto Terra pode se metamorfosear em um Esper e aumentar o dano causado por magia. São 14 personagens com uma variação incrível de gameplay, como nunca vista antes (nem depois) na saga. Além disso, não existem personagens principais, fazendo com que o jogador possa formar um grupo de quatro guerreiros com qualquer um dos 14 disponíveis (diferente dos Final Fantasy do Playstation, onde você deve manter o protagonista no grupo, obrigatoriamente).

Estratégia na dose certa, porém griding tedioso

Além do sistema de Magicite descrito acima, os equipamentos, marca registrada da série, são essenciais para montar um time forte para os desafios do jogo. Diferente dos Final Fantasy que viriam depois, os equipamentos do Final Fantasy VI são peça fundamental para a sobrevivência da equipe. Além das armas, escudos, armaduras e capacetes, uma novidade são as relíquias – pequenos acessórios que, quando equipados, dão atributos de status diferenciados em cada personagem.
Cada personagem tem direito a equipar duas relíquias, e fazer a combinação certa. Além de facilitar muito sua jornada, pode ser crucial em determinadas ocasiões. Para você ter uma ideia, existem relíquias que protegem contra status negativos como envenenamento e petrificação, e existem aquelas que conferem status positivos como Haste, por exemplo, que te deixa mais rápido para usar seus comandos durante as batalhas. Tanto os equipamentos quanto as relíquias podem ser adquiridos em baús encontrados nas dungeons ou comprados nas cidades.



E por falar em comprar, o jogador adquire dinheiro vendendo itens que não usa mais, porém a maneira mais eficiente de conseguir dinheiro no jogo é através de batalhas. Cada batalha, além de liberar uma quantia de experiência e Magic Points, também libera uma quantia de dinheiro. Isso faz com que o jogo gire basicamente em torno das batalhas. Diferente dos jogos da franquia Zelda ou Resident Evil, que centralizam sua experiência em resolução de puzzles, aqui são as batalhas que tocam a carroça.


Isso pode ser frustrante para alguns jogadores, já que essa dinâmica é extremamente repetitiva e pode se tornar facilmente tediosa. Porém, conforme seus personagens vão evoluindo e novas habilidades vão se abrindo, as coisas ficam mais interessantes. Como o jogo possui uma história muito boa com várias reviravoltas, a repetição do griding por meio de batalhas pode até ser amenizado. Porém, o jogador deve estar avisado: ele vai precisar de uma dose extra de paciência para deixar seu time competitivo.

Um espetáculo visual e sonoro

Sim, é um jogo claramente da era dos 16 bits, isso não dá para esconder. Os gráficos, apesar de simples para a atualidade, não escondem todo cuidado artístico com que o jogo foi projetado. Cada detalhe do telhado das casas, das rochas das montanhas, dos rios, aos efeitos do mode 7 no mapa-mundi, enchem os olhos dos fãs da Pixel Art. É tudo muito bem feito e detalhado, e até as animações dos personagens, por mais simples que possam parecer, carregam um charme e carisma inestimável. É possível se conectar com os sentimentos de cada um deles mesmo sem expressões faciais complexas.


É incrível pensar na criatividade da equipe de desenvolvimento de Hironobu Sakaguchi em tentar veicular sentimentos como tristeza, felicidade, ódio, desejo de vingança, redenção – tudo com movimentações simples de bonequinhos que pulam de um lado para o outro, mexem o dedinho ou baixam a cabeça.  Obviamente, nada disso seria possível sem a fantástica trilha sonora de Nobuo Uematsu, que consegue traduzir cada um desses sentimentos de maneira magistral. Cada uma das trilhas sonoras encaixa perfeitamente com os momentos do jogo, e traduzem com eficácia a grandiosidade de toda a obra.


Muitos momentos marcantes do jogo, como a cena da Opera House, se tornaram referência no mundo dos games graças a essa sinergia entre ótimo design gráfico e trilha sonora bela e impactante. Aliás, momentos marcantes são o que não faltam, assim como visuais marcantes. A paleta de cores em tom pastel, na maioria das casas e no mapa-múndi depois da catástrofe, dão aquela sensação de conforto de gameplay de fim de tarde. Parece ser a marca registrada do título, que trabalha para passar aquela imagem de como seria um mundo medieval em plena industrialização. 

O fim de uma era, o começo de outra

Final Fantasy VI foi a despedida da Squaresoft da casa do Mario. Parceira de longa data da Big N, responsável por outras pérolas como Chrono Trigger e Super Mario RPG, desentendimentos posteriores e problemas na transição da quarta para a quinta geração fizeram com que a desenvolvedora partisse da Nintendo para a Sony, lançando o sucessor (e mais famoso) para o Playstation. E, apesar de não ter alcançado a fama da sétima entrada da série, Final Fantasy VI fez um tremendo sucesso na plataforma de 16 bits da Nintendo, vendendo em média 3 milhões de unidades pelo mundo.

Além disso, o jogo conseguiu despertar o interesse do ocidente pelos RPGs japoneses de uma vez por todas, abrindo caminho para que a franquia pudesse chegar onde chegou. Final Fantasy VI é um excelente jogo, ficando ao lado de Chrono Trigger como um dos melhores RPGs do Super Nintendo. Apesar do sistema de batalhas em turnos e encontros aleatórios serem vistos como datados, e irritarem alguns jogadores mais afoitos, é essencial que todo aquele que é fã de JRPG jogue o título pelo menos uma vez.

Mesmo com o recente remake feito para dispositivos Android e PC, a melhor versão de Final Fantasy VI é a versão original, lançada para o Super Nintendo como Final Fantasy III, e facilmente encontrada no Virtual Console ou no SNES Classic Edition. A discussão sobre qual Final Fantasy é o melhor sempre gera divergências na comunidade, e acaba não chegando a um consenso. Porém, após jogar Final Fantasy VI, você vai entender por que muitos fãs da saga consideram esse o melhor jogo da franquia, e um dos melhores jogos do mundo.

Revisão: Vladimir Machado   

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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