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Análise: Youtubers Life OMG Edition (Switch) é um game sobre rotina, organização e força de vontade

Crie vídeos, consiga seguidores, participe de eventos, interaja com seus fãs e faça seu canal crescer. Viva a vida de um verdadeiro Youtuber!


Youtubers Life OMG Edition é fruto da experiência da desenvolvedora U-Play Online com jogos de gerenciamento esportivo no universo mobile, combinado com inspirações advindas da série Tycoon e dos aclamados The Sims. Mesclando características de simulação e gerenciamento, você iniciará o jogo como um youtuber novato, tentando angariar seus primeiros inscritos, enquanto lida com suas próprias necessidades, a vida de estudante e um orçamento escasso.

O nascimento de uma estrela

A primeira impressão nem sempre é a que fica. O game começa com uma cinematic com baixa qualidade de resolução, em que a nossa versão do futuro em que tudo deu certo conta como é ser um Youtuber de sucesso, com sua própria Network. E assim ficamos sabendo que todas as nossas ações no jogo são na verdade ele contando sua história.

Passando para a tela de criação de personagens, há várias opções de customização. Nada tão vasto quanto um The Sims mais recente, mas há opções suficientes para que a maioria das pessoas consiga se representar ou criar um personagem com as características que julgar melhor. As opções de vestuário podem ainda não empolgarem nesse ponto, mas irão aparecer mais opções gradualmente durante a história.


Um entre seis tipos de personalidade também deve ser escolhido, adicionando alguns bônus que melhoram alguma característica do personagem. Uma personalidade sociável, por exemplo, ajuda a fazer amigos mais rapidamente, enquanto ser genioso faz com que o personagem termine os estudos de forma mais ágil.

Por fim, a escolha principal é em relação ao assunto abordado no canal. Você sonha em ser um grande influenciador na área de games? Um músico famoso? Ou sua paixão é a gastronomia e seu desejo é se tornar um respeitado cheff? É possível seguir qualquer uma das carreiras, que vão ter pequenas diferenças no gameplay. Em todo o caso, se gostou de mais de uma, é possível criar saves diferentes para jogar com cada uma das opções sem perder seu progresso. Nesse ponto o game já tira a impressão ruim da cinematic inicial.

Os primeiros passos

Nosso espaço inicial é um pequeno quarto na casa da mãe. O restante da casa não é explorável, mas temos tudo o que precisamos à nossa disposição. Para movimentar o personagem e interagir com os objetos usamos um cursor, como em um jogo de computador. Os controles são, no geral, bem adaptados, mas pode ser necessário algumas boas horas de jogo para se acostumar com a movimentação de câmera.

Nosso personagem tem duas necessidades específicas que precisam ser atendidas com cuidado, que é sono e fome. O jogo funciona com um sistema de empilhamento de tarefas, em que podemos definir até quatro atividades sequenciais para que o personagem execute. Então, quando ele estiver com sono e fome, você pode por exemplo clicar na cama e colocá-lo para dormir. Ainda durante o sono, já é possível definir que após acordar ele irá comer. Negligenciar essas necessidades pode interromper outras ações abruptamente, afinal ninguém consegue trabalhar dessa forma.


O segundo elemento de grande importância é o nosso cenário de trabalho, que será diferente de acordo com a carreira escolhida: uma TV e consoles para o gamer, uma mini cozinha para o cheff ou um mini estúdio para o músico. Um ponto em comum é uma estante, onde são guardados jogos, receitas ou músicas.

Para realizar os vídeos, é preciso pegar um item base nessa estante, escolher uma opção do tipo de vídeo que será criado — exemplos: gameplay, cover, etc. —, configurar opções de câmera e microfone e então entrar em um minigame de cartas, que definirá a qualidade do vídeo baseado em quatro fatores: roteiro, atuação, som e pós-produção. Há algumas diferenças entre as carreiras. Os amantes de gastronomia podem, por exemplo, criar suas próprias receitas desde o início do game, ainda que com opções limitadas, e os gamers podem usar o próprio PC para gravar suas jogatinas, economizando dinheiro para comprar um console potente depois.

Outro ponto importante do quarto é o nosso computador, que é onde iremos renderizar os vídeos, além de fazer compras. No início teremos o pior equipamento possível, mas como tudo no game, aos poucos versões melhores serão liberadas para compra. A partir das cartas escolhidas durante a gravação, são gerados segmentos de vídeo que precisam ser combinados da melhor forma possível no software, literalmente como um quebra cabeça.


A partir do poder de renderização do PC, filtros podem ser aplicados para melhorar o resultado final. É uma solução interessante para o processo de criação e edição de vídeos no jogo, fazendo com que o jogador que entenda melhor suas mecânicas consiga extrair um resultado superior dos vídeos, simulando positivamente a concorrência da vida real. Além disso, mesmo que você faça ótimos vídeos, alguns fãs podem não gostar do conteúdo, por diversos motivos: postar análises sem ter feito gameplays suficientes ou vídeos de primeiras impressões de jogos antigos não são muito bem vistos, por exemplo, mas é claro que os haters não foram esquecidos.


Mas não é qualquer iniciante que consegue viver de fazer vídeos, não é mesmo? A mãe coloca comida na mesa, mas exige boas notas. Felizmente, para estudar basta clicar na porta e aguardar um pouco. É esperado um bom número de horas de estudo por semana para se dar bem com ela, podendo até receber como recompensa uma graninha pelo esforço. Se o orçamento estiver muito apertado, a “porta mágica” também oferece alguns bicos, como ajudar a vó ou engraxar sapatos.

E o que fazemos com todo esse dinheiro? Bem, compras online, porque obviamente é muito mais prático assim. Inicialmente teremos acesso a três lojas, uma com equipamentos para melhorar o PC, e outras duas relacionadas à profissão escolhida: loja de games e consoles, de músicas e instrumentos, ou de alimentos e utilitários de cozinha. As três opções abertas depois são de decorações, para montar um belo cenário, de roupas, para dar aquele “tapa no visual”, e uma loja de alimentos, porque ao sair da casa da mamãe você é responsável por se manter — e não, apesar de uma das profissões ser literalmente fazer comida, não dá pra aproveitá-las.

O mundo lá fora…

Estou fadado a passar meus dias no quarto comendo fast food e fazendo vídeos, sem nenhum contato externo? Claro que não meu amigo, pois o mundo lá fora clama pela sua companhia. Existem mais três barras que necessitam da atenção do U-tuber (nome usado no jogo), que frustrarão os fãs e amigos caso fique muito baixa. Uma delas se enche ao publicar um novo vídeo. A segunda cai quando o usuário fica muito tempo sem postar nas redes sociais, sendo as duas relacionadas aos fãs do canal. A terceira barra precisa que você saia de casa e participe de eventos, e aí chegamos no maior ponto fraco do game: a interação social.

É possível conversar com os amigos disponíveis pelo computador, mas estreitar relações requer “olho no olho”. Então, precisamos ir ao cinema, em baladas e até podemos ser convidados para apresentações oficiais de produtos. Aumentar sua rede de contatos é importante, e traz diversos benefícios no game, que não serão citados para não atrapalhar a experiência. Acontece que fazer isso é uma tarefa maçante e muito repetitiva.


Para conseguir interagir positivamente com as pessoas, é preciso conhecê-las, certo? Acontece que para fazer isso no jogo, basta abrir o perfil e saber a personalidade e o que cada NPC gosta e, assim, escolher o melhor tema para o diálogo. É bem fácil, mas o jogo cria muitos personagens aleatórios, fazendo com que estabelecer relações seja uma tarefa extremamente mecânica. Por mais que você se lembre de alguns amigos e até consiga identificá-los ao encontrá-los em algum lugar, provavelmente vai querer ficar com um grupo pequeno deles, por ser mais fácil gerenciar dessa forma.

Além disso, eles precisam de atenção constante. Ficar muito tempo sem convidá-los para virem a sua casa, sair ou interagir pelo chat do computador logo faz a barra de amizade diminuir e eles “darem no pé”. Por se tratar de um jogo de gerenciamento, a quantidade de coisas que dá pra fazer diariamente é limitada e precisa ser muito bem organizada, e os amigos muitas das vezes serão “a pedra no sapato” que vai impedi-lo de terminar um vídeo encomendado ou guardar aquele dinheiro para melhorar o PC.

Muitos dos eventos exigem roupas específicas, sejam elas de predominância de uma cor específica, mais formais e até fantasias. Infelizmente, o jogo não mostra na hora de trocar de roupa qual é o evento, então se não tiver prestado atenção no calendário, você chegará na festa e as pessoas irão te tratar mal por não estar vestido de forma adequada. Isso acontece principalmente quando somos convidados, mas dá pra perder algum dinheiro ou oportunidades por conta de uma informação que poderia ser destacada.


As interações realizadas através do Pipper (análogo do Twitter) também não foram muito aprofundadas, e mesmo desbloqueando frases diferentes aos poucos, repetir sempre a mesma postagem cumpre seu trabalho de preencher a barra de redes sociais. Por se tratar de simulador de vida, e ao mesmo tempo, um gerenciador de carreiras, muita coisa no jogo é repetitiva, já que é basicamente a rotina diária de uma pessoa, mas exceto por alguns poucos eventos especiais que teremos oportunidades de participar, o mundo lá fora é chato — e fazer os vídeos também pode ficar, mas com o progresso do jogo, pelo menos é possível automatizar essa tarefa.

Subindo na vida

Se por um lado o jogo pode ficar repetitivo, ele é divertido e desafiador em boa parte do tempo. Se as coisas vão bem, o canal está crescendo e o dinheiro entrando, há sempre novas possibilidades para o jogador. Ao sair da casa da mãe, podemos dividir o apartamento com o amigo. Continuando esse crescimento, é possível ter o nosso próprio apartamento, com duas áreas de trabalho, e até mesmo contratar funcionários.

Novos celulares trazem tipos diferentes de interações, que são benefícios, mas também são mais questões a serem gerenciadas. A progressão é mais visível ao mudar de moradia, mas aumentar a experiência e subir de nível dá acesso a novas cartas e desbloqueia novas habilidades, tipos de conteúdo e bônus de recepção a certos formatos de vídeos. Até mesmo casar tem seus prós e contras. Esses pontos são bem dosados, deixando o jogo equilibrado e com uma fórmula viciante.


Se existe algo muito divertido é ver as referências ao mundo real. Por questões de licenciamento, nenhum nome oficial é usado, mas nada que impeça os desenvolvedores de fazerem referências ótimas a indústria dos games, ou a músicos famosos — e me perdoem, mas provavelmente há boas referências culinárias que eu não entendi. Assim como na vida real, é muito legal conseguir também no game comprar um Mantendo Zii, um Honey PlayStudios 3 ou um NicoSoft zBox 360. A maioria dos nomes de jogos são genéricos ou misturados, mas há algumas pérolas como Need For Fast More Wanted.

Último take

Assim como o nosso computador no jogo, Youtubers Life infelizmente possui alguns problemas técnicos bem desanimadores. Entre carregamentos mais demorados que o normal e algumas quedas de framerate, o que mais incomoda são momentos em que a pilha de tarefas não funciona corretamente. Uma questão muito comum é começar a fazer um vídeo e chegar a hora de ir para algum evento. Quando isso acontece, às vezes o personagem sai pela porta mas a tela do evento não é carregada. Assim, ficamos com a câmera presa no quarto sem que o personagem esteja lá, e o tempo continua correndo. Para resolver, é necessário voltar ao menu inicial e carregar novamente o jogo salvo.

Graficamente ele não é nenhuma obra prima, mas os ambientes que moramos, principalmente a partir do primeiro apartamento, são muito bonitos e detalhados. Os personagens cartunizados também cumprem sua função, mesmo com animações simples, e falando aquele “blá blá blá” típico da série The Sims. O jogo da Electronic Arts parece ser mesmo a maior inspiração da parte artística de Youtubers Life, porque até a música, apesar de ser bem diferente, passa a mesma sensação de rotina e casualidade.


Em meio a seus defeitos e virtudes, o game tem sim muito potencial para divertir os amantes do gênero, principalmente os fãs de The Sims, pessoas que gostam do mundo do Youtube e de jogos de gerenciamento. Há muito conteúdo além do que foi citado nessa análise. Os problemas do jogo podem desanimar às vezes, mas sua fórmula deixa a experiência viciante, então, mesmo que precise recomeçar de certos pontos às vezes, não é algo tão ruim, e a vontade de voltar a jogar provavelmente será mais forte. São ainda questões que podem ser acertadas em futuras atualizações, caso a desenvolvedora dê o devido suporte ao jogo.

A riqueza e a fama lhe esperam em Youtubers Life OMG Edition, mas antes é preciso encarar uma vida de dificuldades e superar as provações, para enfim ser a próxima estrela do mundo do entretenimento. Uma boa sorte a todos!

Prós:

  • Fórmula viciante e divertida;
  • Desafiador na medida certa;
  • Ótimas referências à cultura popular;
  • Boa variação de itens e colecionáveis.

Contras:

  • Repetitivo;
  • A parte de interação social é muito maçante;
  • Interface pouco intuitiva;
  • Problemas técnicos.
Youtubers Life OMG Edition — PC/Android/IOS/PS4/XBO/Switch — Nota: 6
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela U-Play Online

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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