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Análise: Boomerang X (Switch): intrigante e acelerado na medida certa

Um jogo que mistura com maestria plataforma e mecânicas de ação em primeira pessoa.

Boomerang X é um jogo de ação em primeira pessoa desenvolvido pela DANG! e publicado pela Devolver Digital. Mantendo a tradição da publisher de investir em títulos indies com imenso carisma e muito zelo, o game aposta nas mecânicas que giram em torno do ato de se lançar um bumerangue para atrair o jogador para um mundo intrigante e desafiador.

What a wonderful world!

A primeira coisa que chama a atenção em Boomerang X é a beleza dos cenários. A jogabilidade é precisa e repleta de nuances, mas sem dúvidas é o encanto com esse mundo absurdo e misterioso que atrai todas as atenções desde os primeiros minutos. Nos vemos em um ambiente aparentemente amigável que se mostra rapidamente hostil. Felizmente, o nosso personagem sem nome encontra uma arma para acompanhá-lo no processo: um bumerangue. 

A princípio pode não parecer que as mecânicas extraídas dessa arma poderiam gerar variações suficientes para tornar a experiência agradável, mas Boomerang X consegue dosar de forma inteligente e gradual o surgimento de poderes especiais com a aparição de inimigos cada vez mais estranhos. O cenário, ao mesmo tempo, se transforma também em algo problemático, com espinhos, chão de lava e buracos sem fundo. Tudo isso faz com que a sensação seja, ao mesmo tempo, de familiaridade e constante descoberta.




No começo não somos apresentados a um contexto sobre quem somos ou sobre o que estamos fazendo naquele local. Também não sabemos o porquê daquela arma e nem por que possuímos a habilidade de usá-la. A falta de narrativa é tão incisiva que durante os primeiros estágios parece que o game se resumirá a câmaras de teste de habilidades.

Essa sensação muda no decorrer das fases. Vamos encontrando pistas e até mesmo habitantes desse mundo, que nos apresentam os motivos e circunstâncias que nos levaram até ali. Apesar disso, é na composição das mecânicas que Boomerang X brilha.



Aprender a coreografia

Quando era criança, eu adorava filmes de kung fu, especialmente aqueles que possuíam coreografias exageradas, em que os atores voavam nas cenas, lutando durante uns bons segundos antes de tocar o chão.

Jogando Boomerang X, me senti como se participasse daquelas cenas. Não que você enfrente inimigos que geram um embate direto de lutador para lutador; na verdade, em cada sala que entramos, novos inimigos surgem e agem de maneira meio errática, como se fossem parte de um ambiente pouco receptivo. É nesses cenários que novas técnicas precisam ser aprendidas e aprimoradas.

No começo, temos apenas uma vida, mas esse número vai aumentando com o tempo, de acordo com a complexidade dos inimigos e dos estágios. Não é nada simples dominar o bumerangue, conhecer o ambiente, se esquivar e atacar os inimigos. Contudo, como as habilidades surgem de maneira gradual e são bem apresentadas, todo o processo parece natural e cada técnica aprendida nos permite avançar com mais tranquilidade ao próximo estágio. 




É possível perceber que há um cuidado em tornar a experiência suave e tranquila. Por isso, em nenhum momento senti que o jogo exigia mais de mim do que aquilo que eu era capaz de fazer. Ainda assim, existem inúmeras opções de jogabilidade e acessibilidade, que vão desde a mudança da dificuldade padrão até o uso da invencibilidade ou de poderes específicos.

Claro, dependendo do seu estilo, esse cuidado dos desenvolvedores pode ou não soar como algo positivo; na minha forma de ver, os benefícios são importantes porque ajudam a acolher diferentes tipos de jogadores.

No começo, conseguimos apenas lançar o bumerangue e saltar de uma plataforma para outra nos cenários. Depois, desbloqueamos a habilidade Estilingue, que nos permite atirar a arma e então apertar o botão ZR para nos lançarmos até o bumerangue. Algum tempo depois, aprendemos a desacelerar o tempo com o Flux, gerando um efeito muito semelhante ao bullet time de Matrix. 

Então, chega a hora de liberar ataques especiais: ao matar dois inimigos de uma vez só, conseguimos a Dispersão, que nos permite soltar uma rajada com fragmentos que podem atingir diversos inimigos de uma só vez; já ao matar três inimigos com a Dispersão, liberamos um ataque chamado Agulha, que possibilita o uso de uma rajada de energia. E assim, outras habilidades mágicas vão surgindo aos poucos.

Os controles são simples e, no Switch, funcionam de maneira muito precisa e intuitiva, tanto no modo portátil quanto no Pro Controller. Ainda assim, para quem quiser explorar, existem inúmeras opções de customização dos controles, permitindo inclusive o uso do giroscópio e dos controles de movimento.



Puzzle no ar

Boomerang X é como um jogo de puzzle que deve ser jogado em movimento, atirando uma arma que irá retornar até você e fugindo dos inimigos e dos espinhos pelo caminho. Sua campanha é curta, mas a sensação de que poderia haver muito mais mostra que a proposta de sintetizar as ações ao essencial foi um acerto.

Ele é estimulante tanto pelo lado visual quanto pela movimentação frenética, e oferece inúmeras possibilidades para que cada jogador planeje suas próprias estratégias durante os estágios. Se você gosta de pensar rápido e não tem problemas de labirintite, esse certamente é um título que não pode passar despercebido.

Prós

  • Gráficos belíssimos;
  • Desenvolvimento gradual de técnicas e habilidades;
  • Muitas opções de customização e personalização da jogabilidade.

Contras

  • Jogo relativamente curto;
  • A baixa dificuldade na maior parte do tempo pode desagradar alguns jogadores;
Boomerang X — Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
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