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Análise: Brothers: A Tale of Two Sons (Switch) - uma das melhores experiências narrativas

Chega no Switch a brilhante história de dois irmãos que viajam pelo mundo em busca de uma cura para a doença de seu pai.

Poucas manifestações artísticas chegam a proporcionar catarse como Brothers: A Tale of Two Sons, ainda mais sem envolver matéria verbal. Lançado originalmente em 2013, o jogo conta a história de dois irmãos que estão tentando salvar o seu pai, passando por vários cenários e interagindo com outros seres, hostis ou não. Agora, no Switch, está disponível o modo cooperativo local que, por si próprio, possibilita uma nova experiência. Nesta análise, além de criticar o jogo em si, pretendo comparar essas duas possibilidades de jogatina.


Joguei Brothers: A Tale of Two Sons em 2013 no computador, completamente sozinho, e agora no Switch com a minha namorada. Tudo será analisado com base nessas três experiências: sozinho e inédito; cooperativo e não inédito; cooperativo e inédito.

Era uma vez…

O enredo do jogo guia o(s) jogador(es) por uma aventura inspirada em fábulas antigas, situada num universo fantasioso “genérico”. O grande objetivo que une as três horas dessa história é centrado no pai dos dois irmãos, que está doente e morrendo. Sabendo disso, os protagonistas partem na sua aventura em busca de um remédio que possa curar o seu pai.


Entre o pontapé inicial e a belíssima conclusão, os protagonistas entram em contato com vários outros personagens, humanos e míticos. Essas interações são muito variadas e exercem grande peso na construção da personalidade dos dois irmãos, que é, justamente, o maior elemento positivo do jogo.

Destaco novamente: tudo isso é feito e desenvolvido sem o uso de diálogos ou narrações verbais. Há sim uma linguagem fictícia e incompreensível, frequente em cutscenes ao longo da história, mas as significações que o jogador atribuiu aos eventos é feita exclusivamente com base nas animações visuais e nos elementos de jogabilidade.

Essa progressão narrativa é o jogo. Há uma conexão fortíssima entre gameplay e enredo e, portanto, é impossível definir com clareza o que veio primeiro. Talvez, seja melhor aceitar que os dois elementos nasceram no mesmo instante, pois a recepção por parte do jogador condiz muito com essa possibilidade. A mão do cineasta Josef Fares é muito visível nesses aspectos e, para um produto artístico-lúdico experimental, Brothers: A Tale of Two Sons atinge um nível de qualidade altíssimo.


Mesmo que curta, a experiência é constantemente preenchida por fragmentos narrativos de construção dos dois irmãos e/ou do universo. Citarei apenas um exemplo para não estragar as surpresas: em algum momento da jogatina, os irmãos se deparam com um homem que está tentando se enforcar. Obviamente, há a possibilidade de reação do jogador para impedir que isso aconteça, mas isso exige agilidade e destreza, além de ser opcional. Concretamente, salvá-lo ou deixá-lo morrer não impacta o gameplay futuro, nem o final da história. Porém, se ele vive, criam-se algumas interações únicas e, principalmente, a experiência do jogador é afetada em um nível muito profundo e subjetivo.

Co-op ou “co-op”

A discussão mais relevante (e interessante) a se ter ao analisar Brothers: A Tale of Two Sons hoje, no Switch, é a possibilidade de o experienciar em dupla. A desenvolvedora original do jogo falou claramente que o jogo deve ser jogado por uma pessoa, e que ele tinha sido pensado para esse fim. Porém, isso não quer dizer que a experiência conjunta seria pior. É apenas diferente.

Muitas críticas acabaram por avaliar Brothers: A Tale of Two Sons com oitos e noves, sempre longe do dez, por conta dos controles. No modo singleplayer, no mesmo controle, com o joystick esquerdo você controla um irmão e, com o direito, o outro. Além disso, os botões traseiros de cada lado também desempenhavam uma ação específica para cada personagem.

O primeiro problema que se apresenta é a coordenação motora exigida para controlar dois personagens simultaneamente com duas mãos distintas. Porém, obviamente, o jogo não é hardcore e não exige uma maestria homérica: sutilmente, ao longo da jogatina, o jogador começa a se acostumar com esses controles. Infelizmente esse não era o único problema, na verdade, talvez até seja secundário. O principal poderia ser, para alguns jogadores, a confusão sobre qual irmão é controlado por qual joystick.

Mantendo o da esquerda no lado esquerdo do mapa pode suavizar, mas é só inverter isso que a jogatina é interrompida até que você se habitue novamente. Naturalmente, foi um grande risco tomado pelos desenvolvedores, e acabou por gerar muitas críticas.

Isso desaparece completamente se o jogo é experienciado por duas pessoas cooperativamente. Boa parte da dificuldade do gameplay desaparece, mas ainda fica intacta toda a belíssima história e os seus puzzles criativos. Naturalmente, não é recomendado ler um romance em dupla e, na verdade, essa tentativa mostraria vários problemas, porém, ninguém questiona que filmes caem bem com uma companhia, mesmo os mais sérios e reflexivos. Bem, nesses termos, o jogo pode ser visto como um filme, tanto pela sua duração curta quanto pelo seu apelo visual.

Assim como nem todo mundo vai olhar para esse jogo e imediatamente dizer “caramba, quero jogar isso”, os jogadores no Switch também pensaram sobre quem convidar para essa experiência narrativa. Talvez numa reunião mais animada com amigo(s) seja melhor um Smash, ou para adicionar a sua vó na jogatina, um Mario Kart da vida. Mas sei que ao ler isso você, leitor(a), pensou em alguém que se encaixaria bem nesse cenário.

E talvez seja essa a melhor conclusão a se ter de um jogo tão único como esse. Essencialmente experimental, fora de padrões, e que certamente influenciou imensamente o cenário atual de games / narrativas digitais, recomendo muito Brothers: A Tale of Two Sons.

Prós:

  • História encantadora, mesmo sem diálogos;
  • Ambientação muito bem construída;
  • Conceitos únicos e inovadores;
  • Puzzles que exploram bem o enredo e o universo.

Contras:

  • Modelos tridimensionais poderiam ser mais bonitos;
  • Os controles no modo singleplayer podem causar frustração.
Brothers: A Tale of Two Sons - Switch/PC/PS3/PS4/X360/XBO/Mobile - Nota 10
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela 505 Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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